quarta-feira, 29 de agosto de 2012

João que sabia sorrir.


Hoje eu conheci João.
Enérgico, ativo, bem humorado.

Trazia um universo gigante e novo dentro dos olhos.
Tinha cede de tudo; de saber, de ver, de conhecer, de ser.
Abriu um sorriso tímido que cativaria qualquer criatura.

Desandou a falar com propriedade das coisas que não sabia...
E perguntava; e afirmava; e sorria.

É lindo demais esse João, tal qual pintura barroca...
Um pequeno anjo barroco eu diria; e sorria todo.

O nublado do céu criava um nuance atípico em sua íris.
O nublado do céu casaria, de bom grado, com a neve de sua pele.

João me encantou como aquela cigana marginal.
João me cantou como qualquer criança de coral.

Segurou-me as mãos e sem dizer qualquer palavra, me fez crer no futuro.
Furtou-me o mau-humor com um comentário bobo; e sorria tudo.

A inocência nele se escondia entre os louros cabelos cobertos por um capuz.
O singelo nele se lia, se recriava, se esvaziava e depois enchia.

Breve fábula criaria vida, se assim permitisse, entre seus dedos mínimos.
Todos paravam pra escutar João; e sorria tímido.

O efeito João ainda ficou dias em mim...
Coisa que só os olhos infantis causam; e sorria sem fim.

Nunca mais o vi, ou soube dele notícia qualquer.
Mas o efeito João, só de pensar...

Sorri.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

À Inutilidade das coisas


Brindemos pois, à inutilidade!

Pois somos nós que pensamos tanto, inúteis.
Somos nós que fazemos tanto, inúteis.
São os músicos também, reféns.
São os poetas, junto ao conjunto.
São os filósofos, consolos tolos.
Como todos também somos...
Inúteis.

De que serve?
Questionar a vida
De que adianta?
Esse nó na garganta
Na jugular
Presos entre o ser e não ser
Condenados a caminhar
A existir e a recordar
Ao subjugar
Estar e parecer, para ser
Quando em verdade todos somos...
Inúteis.

Brindemos pois, à inutilidade.

Modesta e vil
Rechaçada
Maldita e febril
Retardada
Que orgulha e enoja
Faz-se necessária
Mesmo que ordinária
Ociosa vítima da situação
Quando culpados todos somos...
Inúteis.

Brindemos.

Ao uísque e a bebedeira
À mesquinharia ou a qualquer besteira
À sacanagem e a toda brincadeira
Que afrouxa o riso
Que gargalha!
Pois o inútil é um improviso
E todos somos artistas
E todos somos cubistas
Surrealistas
Anarquistas
Socialistas
Psicopatas
Analistas
Loucos.

Brindemos!

Brindemos, nós, aos que não são senão...
Brindemos a nós, que não somos senão...
Brindemos às coisas, que nada são além de...

                                                                              Inúteis.