terça-feira, 10 de abril de 2012

Todo o Pranto


Uma lágrima caiu no asfalto...
Feia e suja; lavando toda impureza da rua, juntando toda a poeira que pertencia àqueles olhos borrados.
Sem precedente, sem justificar; sentindo simplesmente, uma vontade de cair pra nunca mais voltar.
Era dura e oca, sentimental demais, exagerada e excedente, mas simplesmente era... Uma lágrima.
Daqueles olhos que se despiam tão despudoradamente, frente a outros tantos indiferentes ao seu pranto.
Daquela alma desnuda, que clamava calor, que pedia atenção, que ouvia o coração e calava.
Conteve o grito e qualquer alarde.
Conteve reclamações e tantas outras palavras.
Conteve a garganta engasgada e mais uma represa cheia de tantas outras lágrimas.
Reclusa, repleta de intimidade; desde paixão maior, tristeza mundana, à raiva exclamada.
Mostra pouco... Mostra muito.
Quer dizer... Não diz.
É tudo junto, ao mesmo tempo, misturando, embrulhando o estômago, pedindo um tempo.
Não dá, tem que ser, tem que sair, tem que rolar, tem que cair.
Uma lágrima caiu no ócio.
Era feia.
Era suja.
Mas era pura, tenho certeza.

...Era uma lágrima.

terça-feira, 3 de abril de 2012

As Pessoas


Quão engraçadas são as pessoas; que sentem muito, que dizem pouco, que pensam tanto, que sabem nada..
Pessoas que sonham em parcelas; que anseiam mas nada fazem com seus anseios. Simplesmente querem chegar mas não querem caminhar, querem o cume mas não a escalada.
Querem e querem, tudo de tudo, mas fazem que fazem... Nada.
Quão irritantes conseguem ser as pessoas? Muito. Monótonas, fofoqueiras, cheias de não-me-toques, desmedidas, críticas demais, políticas, falsas, traiçoeiras, feias...
Porém, quão irritantemente amáveis são de fato as pessoas! Essas que dão saudade, que se quer por perto a todo custo, que se quer olhar o dia todo, abraçar desesperadamente; e logo agradeces verdadeiramente por simplesmente existirem... lindas demais.
Tão contraditórias conseguem ser as pessoas e suas razões.. Justificam-se, explicando em demasia, se contradizendo, errando constantemente sem se desculpar, sem reconhecer, sem voltar atrás, negam e continuam a errar.
Mutantes são, no decorrer de suas vivências. Mudam de cor, de gostos, de aparências; suas preferências, seus rostos, suas vestes, suas ambições, suas noções todas.. Conforme mudam as estações, metamórficos, mudam também.
Como podem as pessoas serem tantas, e tantas alheias umas as outras?! Fascinam-me suas relações e também a falta delas. O correr frenético da secretária do doutor, ante ao trôpego passeio do bêbado, lado à dura caminhada da velha viúva... Todos indiferentes, todos com suas vidas cheias e leigas, alheias a outrem.
Como podem encarceradas dentro de seu próprio egoísmo, serem tão complacentes com a indiferença?! São contrastes absurdos que por vezes doem, por vezes encantam, mas brutos contrastes que só de olhar não se alcança; desde a criança no sinal ao magnata em sua bmw, a leveza da derme que difere em negra ou caucasiana...
Todos tão diferentes, porém semelhantes, porém iguais.
Quão engraçadas são as pessoas, que dão voltas e voltas, que divagam e vagam, que pensam e tropeçam em suas próprias palavras..
Pessoas que teorizam; inquietantes, sedentas por respostas. Que perguntam e perguntam sempre as interrogações erradas; sem saber que nem toda pergunta leva interrogação; sem saber que a questão não é a resposta que se anseia, mas sim, a pergunta que se faz..
Absurdas, absortas.
Quão humanas são, por fim, as pessoas.