quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Somos Frágeis

Por mil sóis como somos frágeis!
Por mil corações e orações,
pelas escadarias e corredores,
macas e leitos...
Como somos frágeis!

Escarnio do mundo,
vida sem tempero,
uísque sem gelo,
blues e choro...
Como somos frágeis!

Somos e sentimos.
E como sentimos...
Muito.
Dores
Amores
Medo
Remorso
Nostalgia
Dor!
Tudo nos dói
Tudo nos pesa
Porque somos tão frágeis
e o mundo não.

Alguns dizem “salvem o mundo”
Eu apelo “salvem os homens”
Pobres criaturas reféns da dor,
Pobres criatura mundanas demais,
suscetíveis e breves.
Tão frágeis.

A verdade é que sofremos,
Céus, como sofremos!
Por antecipar, por postergar;
por esperar, por não esperar nada;
por arrepender-se,
por vangloriar-se,
pelo sim e pelo não...
Sofremos como diabo!

O silêncio da noite é acolhedor e sombrio, mas as manhãs lúcidas são carrascas. A rotina te surra; o relógio e o calendário te surram.
Quando vê já se passaram dezenove natais e não sabes que lugar é teu; e não sabes quem és, e não sabes o que fazer... Não sabes!
A verdade é que talvez nunca saibas, mas apanhas mesmo assim; e os anos passam, e a vida passa.
Tudo enfim, depende de ti e só, e sempre.
Se vai ou se fica, se permanece ou se desfaz, se desconstrói ou se edifica...
- Não sei, não sei!

Somos frágeis e sofremos.

"Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.”

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Migalhas


Não tinha orgulho nem vaidade
Não tinha coisa qualquer pra chamar de sua
Não tinha segredos nem verdades
Não tinha fato qualquer que a inquietasse
Não tinha mel nem fel, era coisa morna e sem sabor
Não tinha gosto qualquer que a encantasse
Não tinha ouvido musicista nem sequer sabia dançar
Não tinha talento qualquer que se pudesse admirar
Não tinha um bom emprego muito menos dinheiro
Não tinha objeto qualquer que a despertasse desejo.

Uma vez ou mais pensara em se matar
Porém há uma covardia lúcida que a faz acordar
Toma uns remédios pra dormir
Golpeando seus mártires incessantemente
Querendo afogar seu caos em águas turvas
Num escuro oblíquo...
Numa ausência de sonho...
Acorda e é cinza.
Dorme e é ocre.

Não vê cores nas nuvens
Não vê brilho nas estrelas
Fez da vida uma interminável espera
Fez do amanhã uma obrigatoriedade
Fez das horas duras penas
Fez do ócio sua verdade.

Debruça-se na janela dos fundos
Frente à parede de tijolos da construção ao lado
Pensa em ser rejunte, cimento, massa.
Qualquer coisa que unisse duas partes essências
Qualquer coisa que tapasse buracos
Qualquer coisa parte de uma coisa maior
Qualquer coisa...
Mas é nada.

Coisa qualquer dá trabalho demais
Coisa qualquer, precisa ‘ser’
E ‘existir’ só, é o que lhe cabe
Existir e só...
Mais nada.

Mais a espera infinita
Mais as horas inatas
Mais o ócio inútil
Mais partida e chegada
A lugar nenhum
Há lugar? Nem um
Mais a vida
Mas há vida?
Uma mentira...
Mais nada.