sexta-feira, 23 de março de 2012

Mães e Filhos

Sentada, com as mãos esfregando freneticamente os olhos, a menina chorava… Soluçava, descompassada, carregando toda a tristeza do mundo em seu pranto, em suas mãos úmidas, em seus olhos inchados.. Sua mãe se aproximou da cama, sentou ao seu lado e num gesto fraternal a abraçou contra o peito encostando sua cabeça carinhosamente na dela.
-Por que isso filha? O que houve?
A menina não calava o choro e também não sibilava qualquer palavra.
Passados alguns minutos, ela sussurrou:
-Você vai morrer mãe..
A mãe assustada, segurou a menina pelos ombros e fitou seus pequenos e reluzentes olhos molhados.
- Que bobagem é essa filha? A mãe não vai morrer..
Soluçando, gotejando toda inocência das incógnitas de uma criança.. A menina afirma.
- Vai sim mãe, todo mundo vai, até o papai!
-Soluço-
Sem saber muito bem como reagir a tal situação, a mãe tenta amenizar seu desespero..
Abraça forte. Agora mais do que antes.
-Vai demorar muito ainda. Não se preocupe com isso agora. Não vou a lugar nenhum. Vou ficar bem aqui, juntinho de você, por muitos e muitos anos.. Não vou te abandonar, prometo.
A filha ainda tenta explicar que não, que ela deveria durar pra sempre. Todas as mães deviam.
Foi um discurso longo, cheio de argumentos e explicações. Até convencê-la de que as coisas são assim e não há como ser diferente.
-A vida tem disso..
Só então eu parei de chorar.
E a abracei. Com todas as minhas forças. Porque naquele minuto, era o meu mundo que eu estava segurando. E eu não podia deixar cair.
- Obrigada mãe, por cumprir sua promessa todos os dias da minha vida.

“São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?”

Mulheres

Mulher.. Dentre todas as figuras há de ser tu a mais linda..
Quando digo linda, não falo só em belo, em curvas, em seios ou bunda..
Falo de tônus, de força e fragilidade, de superação e persistência, de conquista e orgulho.. Dessa figura que não esmorece, de pulso firme e choro contigo, de cabeça erguida e fé, aguenta firme, segura as pontas.. tudo vai dar certo, mulher!
Mulher dona-de-casa
Onisciente
Onipotente
Mulher independente
Fria ou quente..
Mulher meretriz
Mulher aprendiz
Flor-de-lotus
Sempre a postos
Segura a peteca
Não deixa cair!
Mulher fiel
Mulher que sofre
Que enfrenta
Que aguenta
Guerreira e feliz..
Mulher cartão-de-crédito
Mulher fofoqueira
Mulher caridosa
Mulher barraqueira!

Maria ou Joana
Amélia, saudosa
Carolina, cheirosa
Camila
Ana Júlia ou
Raimunda
Vênus
Afrodite
Monalisa ou
Pietá..
Rosas, vermelhas
Violetas, azuis
Românticas
Estressadas
Bipolares..
Belas!
Mulher academia,
não sai da esteira
Mulher dieta,
toda a segunda-feira
Mulher princesa,
cigana e por vezes bruxa..
Cinderela
Rapunzel
Cleópatra
Madalena
Faz cena
Disfarça
Sem-graça
Seduz..
A Meia-luz
Pôr-do-sol
Lua-cheia
Sem-lençol
Nua.
Loira.
Morena.
Perua!
Simplória
Toda glória és tua
Ó mulher..
Mãe
Filha
Avó
Tia
24horas por dia..
Mulher!
Pilar de toda a humanidade, roubaste a cena, pra todo problema és solução..
Parabéns, todo o dia, por cada dia mais.. Mulher-és.

Aconchego

-Como seria bom estar em casa.

E então, eu sentaria em minha mais confortável poltrona reclinável, tendo em mãos dois-quartos de uísque/um-quarto de gelo, enfileiraria alguns bons filmes que há tempos penso em assistir… O primeiro é sempre drama.
O gato pula em meu colo sem qualquer cordialidade, sem qualquer “Por favor” ou “Com Licença”. Calmamente ele se aninha sobre mim acionando seu motor de ronronar… Permissiva, calo.
A mocinha previsivelmente chora, lamenta, desolada, consolada pelo gentleman da história.. Eu bocejo e acaricio o felino, provavelmente um reflexo inconsciente sobre minha carência afetiva.. Tanto faz, dou-de-ombros.
O uísque chega ao fim, e o filme agora é suspense.
Ponto de interrogação, trilha sonora clichê.. Pensa-se “Cuidado. Atrás de você!”, tolos protagonistas, sempre entram naquela casa escura e velha onde, por um acaso, está o assassino em série.
Sirvo mais uma dose, pisco um olho no relógio, quase quatro, o gato pula do meu colo e miando reclama sua fome insistentemente.. Eu também estava com fome, pausei o filme.
Algumas pipocas depois e então o filme era comédia. Pouquíssimas comédias são realmente boas, mas, quando são, tornamo-nos íntimos dos personagens. É como se associássemos a algum tio engraçado, alguma prima bizarra.. Enfim.
Peguei no sono. Ainda com o gato. No sofá mesmo.
Já são quase sete, mas não importa…

-Como seria bom estar em casa!

Sobre vivência.

Eu havia chegado uns minutos mais cedo, mas logo sentei em minha mesa de vidro, bem acomodada em minha cadeira-com-rodinhas em meio a papeis, agendas, telefone, calculadora, teclado, mouse.. Liguei o ventilador e botei uma música qualquer. Faltavam alguns vinte ociosos minutos até dar, de fato, o horário do meu expediente.
Girando a cadeira percebi algo relativamente grande se movendo em direção a mesa, passando ao lado da base de apoio do tão querido ventilador… Era uma barata, do tamanho, senão maior, que meu polegar. Vinha desengonçada cheia de livre-arbítrio em direção a mim, com todas aquelas patas, e asas, e antenas que mechem.. Nutro real e profundo desgosto por baratas.
Entrou a direita logo em frente a minha cadeira, e eu, não mais rápida que ela, tirei minha sandália com ares de chacina em meus olhos pronta para um crime premeditado.. Porém, ela entrou por uma fenda ao lado, entre um móvel e a parede, de uns dois e alguma coisa centímetros… E eu, fiquei a ver navios com minha sandália em mãos.
Passados cinco minutos não mais que isso, vejo a dona barata do lado de fora da maldita fenda, estranhamente estática. Aquilo me intrigou, e, ao olhar melhor, percebo então a figura, a vilã da cena, a protagonista.. Uma aranha. Não chegava a medir um centímetro com patas e tudo, era dessas que tem o abdômen pomposo e patas finas.
Dona aranha então tecia sua teia em volta da barata que já estava grudada em tantos outros fios da mesma.
A barata se contorcia e agitava as patas e antenas desesperadamente enquanto a aranha mais que habilidosa ia até a parede, fixava uma ponta da teia e voltava a ela, enlaçando, e puxando, e prendendo.. Ignorando completamente a sua desvantagem em tamanho. Parecia um ritual, e eu como telespectadora, me senti até meio sádica, lunática… Principalmente por estar torcendo fervorosamente para a dona aranha.
Pensei comigo: e se eu tivesse matado essa barata? Ou até mesmo a aranha?
A todo o momento nós interferimos direta ou indiretamente no ciclo natural das coisas.Ignoramos por completo a cadeia alimentar com toda sua importância e princípios justificados. Somos, ou melhor, achamos que somos o ápice da evolução, o topo da cadeia.. Os intocáveis donos da situação. Tenho pena da raça humana. Não passamos de sarnas no mundo. Se o planeta está doente, nós somos a doença.
A aranha comeu a barata, é uma questão de sobrevivência. Em breve o mundo nos engolirá, para que possa seguir em frente com sua existência.. Questão de sobrevivência.

As Sem-Razões do Ódio

Odeia porque de menos a mais efeito algum lhe traz
Odeia simples e puramente por não conseguir amar
Odeia por não se adequar a meios-termos e preferir o ódio à indiferença
Odeia não conseguindo admitir o amor em seu estado pífio
Odeia por odiar, fazendo do ódio, seu amante íntimo

-Venha meu amor que te odeio sem pudor.

Ódio que alimenta o espírito inquietante e perplexo
Côncavo convexo do jovem gritador
Ódio que enche o peito de revolta
Contamina tudo à volta sem convite ou conversor.
Ódio que aquece o coração revolto
Engasga a glote, dá nó na gogó e enrijece o corpo todo

-Ufa! Já passou..

Odiar primeiro ao sistema e segundo ao seu senhor
Odiar todo problema que lhe causa estresse,
Ou uma dor qualquer nos pés...

Eu te odeio porque te odeio
Não precisa ser constante,
Nem tão pouco sabe sê-lo.

Odiar o carnaval por invejar o bacanal
Odiar o bissexual por não conseguir ser sensual
Odiar sua ex por estar feliz com outro
Odiar um mês qualquer, geralmente agosto
Dá gosto, amargo, nos lábios, rancor

-Cinza? Odeio essa cor!

Sentimento,
Sentir menos,
Sem ti, nem tô…
Ódio em seu estado bruto.

Ódio é primo da morte
E da morte vencedor
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

Utopia

- O amor é a mais ingênua utopia que se faz questão de cultivar para dar sentido à justificativa furada de que há propósito grandioso em estar vivo e vivendo quando as flores já morreram e as cores já esmoreceram cálidas, cansadas de toda a hipocrisia que há tanto as cercam.. Enfezadas com tanto mal-me-quer.

Não!

Amor, seria a ausência utópica do egoísmo humano.
Amor, seria a delícia de saber e só, de sentir-se completo.
Amor, seria amar, ser amado, sem doer mas ardentemente sentir.
Amor, seria eximir-se de ser pra doar-se plenamente...

Enfim.

Talvez traduzir o amor seja a utopia...

Talvez então, o amor, seja o fim da utopia...

Talvez amor...

Seja só...

Amar.

E fim.

Live and Let it be

-Ontem era aniversário do velhote que eu mais admiro nessa vida, meu avô…
Ele é a legítima figura do homem brasileiro: origem indígena, pele parda, olhos miúdos, cabelos gris fugindo pelas famosas entradas-frontais, caminhar cansado, braços que pesam, vista curta, bolso furado, chinelo-de-dedo e camisa-de-time.
Completou setenta e sete sofridos anos de vida; regados a cerveja barata, pasteis fritos na hora pelas mãos calejadas e tremulas de minha avó e uma pequena torta, presente de minha mãe. Sem velas, já fora difícil arrancar-lhe a real idade, que dirá expor a mesma sobre o glacê taxativamente.
Nesse mesmo ano, no meu aniversário, ele havia me presenteado com um cd, não qualquer cd, mas um álbum da Elis Regina.. Ele é dessas pessoas que estudam pra presentear alguém e geralmente acerta em cheio. Só então me dei conta que as datas coincidem, o aniversário dele e o falecimento de Elis.
-Baita data esse dia dezenove de janeiro, dois heróis: uma que se foi e um que se vai.
A morte é um assunto que as pessoas, num modo geral, tendem a evitar, temerosas, cheias de pudores. Mas sejamos francos, não há nada mais natural; todo dia que vivemos é um dia a menos, e comemoramos felizes, nossos aniversários como que contando os dias para irmos embora de vez dessa escabrosidade que é viver.
O que dizer do meu avô que aos setenta e sete anos comprou um carro! Pra maioria de vocês isso seria um grande feito; mas, para ele é muito mais que só um grande feito, é o sonho da vida dele. Seu Almiro Rodrigues Prestes, nunca antes dirigiu, tem algum grau de deficiência visual natural da idade, e, se não bastasse é portador de labirintite… Investiu todas suas economias nisso.
-Como dizer a alguém tão determinado que não, não é possível?
Minha avó tem uma filosofia interessante a respeito.. Diz ela, a seu modo, que as pessoas não devem perder a ilusão, sua ilusão, seu lúdico, seu mundo particular. Custei a entender, mas hoje concordo plenamente com o dito.
A nós, mortais, cabe aproveitar da melhor e mais intensa forma possível nossa breve estadia, nossa passagem instável, vulnerável, passível, imprevisível e inadiável. Viver, hoje e agora, sofrer, sorrir, sentir e ser, das mais diferenciadas formas possíveis e, a nosso modo, fazer nossas próprias escolhas, bem como, arcar com nossas próprias conseqüências.
Valorizar as pessoas, as coisas, os momentos, as relações todas, respeitando a vida em todos os âmbitos e nunca, jamais deixar em pensamento o que engasga a garganta, dizer o que precisa ser dito e também não deixar pra depois nada que é de/para hoje.
-O depois não existe, o depois é a ilusão do político, não adie, não se arrependa, aprenda consigo e com outros, seja prudente consigo, valorize-se bem como aos outros.
Viva seu mundo, não só esse mundo material e limitado, mesmo porque, às vezes ele é muito inóspito. Fuja daqui às vezes, pra qualquer canto que te permita sonhar, se encontrar, estar frente-a-frente com você. Se priorize sem ser egoísta e saiba se colocar no lugar do próximo mesmo que o próximo lhe cause repugna. Tenha em vista a maior quantidade possível de pontos-de-vista e filosofe a respeito de tudo. Escreva qualquer coisa vez em quando e cante uma música triste quando assim sentir.
Ignore qualquer dica que lhe derem, mesmo essas anteriores, se não condisser com o que pensas. Aliás, não crê em nada que dizem se não estiver acordando com teus princípios, seja seletivo e crítico sem ser metódico ou extremista.
Não seja hipócrita ou ignorante, mude de opinião sempre que lhe ocorrer, e, tente ao máximo não se contradizer.
Não perca de vista a criança que existe em você, cultive-a.
E por ultimo, a suma de tudo:
-Viva e deixe viver.

“Na vida a gente leva a vida só, aproveite, você tem uma vida só pra sonhar, sofrer, tentar, fazer, errar e aprender… A viver.”

Hate People

O que veio antes na ordem das hipocrisias, a generalização das massas ou a massa das generalizações?
Me diz, generalizar ou ser generalizado? O que veio antes, o julgar ou o ser julgado?
Quando toda ação tem um promotor, toda promoção tem um autor, cada ação sua reação...
Todos em rota de colisão, num ciclo sem fim de dedos que apontam e cabeças abaixadas.
Inocentes, todos culpados.
Sem desculpas sentenciados.
Quem mais julga será condenado.
O réu é preso mesmo sem ser culpado, e dedos continuam apontados, engatilhados
Sem moral negaste um trocado.
Pra estes filhos da terra, largados ao mau tempo, cabeças ao sol, dormindo ao relento.
Mas vai saber o que o gorila pensa se há horas nas quais se dispensa, o cerebelo, o ser é belo.
Não fala mais, escuta e só,
A vida é uma viagem e não um curta-metragem,
Te deu um nó...
Engole.

Free your minds.

-Mentes pequenas não podem, senão, pensar pequeno.
Enclausuradas eternamente dentro de sua infinita pequenez.
Brandas, rasas, mornas e sem sal.
Donos da “razão” que não levam dessa vida nada além de tombos e tropeços.
-A vida, com sorte, lhes há de virar do avesso.
Pra que assim acertem sua ótica errônea, seu pré-conceito arcaico, seus pensamentos em cacos, hão de ir afluente abaixo.
Então, com seus queixos estatelados no chão, cabisbaixos, desprovidos de qualquer moral, se inundarão de uma humildade até então desconhecida.
-Porque pra crescer, deve se aprender com a vida!
Abster-se de qualquer certeza e dar lugar à interrogação, ao questionamento universal. Sem clichês, conceitos ou negativas.
- Declaro portanto, como preceito básico da sensatez...  
A dádiva da dúvida.

Cometa Primaveril

E de repente, num relampejar de luzes, como num feixe de estrela, tudo volta brilhantemente a ser belo. Mas, tão breve quanto, vai-se embora sem dizer se volta, se sente, se quer outrora vir e ficar.
Insípido, incrédulo, como sorriso que se fecha ao brotar cortante realidade.
Da primavera fez-se escuro inverno, sem dar tempo ao calor maior.
Deixou nos lábios a vontade, e na saliva o gosto de quero-mais.
Não sabia ao certo se era vida real ou trama inventada, fonte da mais pura imaginação, na certa desejo...
Sabia que era tão bom que o coração parou, só pra assistir à cena.
Pensou mil coisas mas nada disse, ouviu mil coisas sem saber o que pensar.
Foram segundos que duraram horas ou horas que duraram segundos, não sabe, esqueceu de reparar nos outros ou sequer se haviam outros. Não olhou  pros lados, tropeçou nos passos, nos lábios, nos olhos, nos braços...
Quando caiu, ouviu-se sonoro estrondo. Quando os porquês e comos chocaram-se atônitos, a razão parou sua valsa descompassada. E enrubesceu apática ao dar-se conta de que nada daquilo podia senão, ser fantasia, brincadeira, leve brisa passageira.
Logo então, o momento passou, e o que ficou dói um pouco ao ser tocado. Aperta um pouco, enche os olhos e também o peito, mas tem um gosto... Um gosto marcante agridoce que nunca mais sai da gente. Alguns chamam saudade, e outros fogem do assunto.

Fotografia

Ele atrasou,
ela esfriou

Não há muito que se possa fazer a respeito
Quando a realidade é uma só, ele perdeu tempo.
Mal sabia, mas o tempo tem um valor tamanho,
Que, se não estiveres por demais atento…
Já foi!

Ela se foi, ele ficou

Junto às coisas na prateleira, ou àqueles no álbum de fotografias.
Embora não soubesse, era já de práxis que ela assim arquivasse
Os que a deixaram
Os que machucaram
Os que a enganaram..
E que assim seja.

Ela ficou, ele se foi

A desilusão, menino, é algo deveras triste.
Ah se soubesse!
Não deixava que ela desistisse.
Assim, sofrida, cheia de mágoa contida
Mas não…

Ele insistiu, ela saiu

Por aí
Cantando seus desamores.
Seu salto quinze e os lábios com cores,
que ele nunca gostou.

Autodidata repete em pensamento:
“não, não mais, foi-se de vez o mau-tempo”
Joga as palavras pro ar, confiando no vento.
-Que leve, que lave, que seque, que guarde.. que seja breve,
que seja leve!

Ele.. quem?

Ela esfriou.

“Love or leave me and let me be lonely..”

Parte Integrante da Obra

- Desculpa moço, não sou daqui.
Ando perdida entre vielas escuras
Adaptei-me bem a estas ruas
Juro que se pudesse, corria nua
Só pelo prazer de me banhar na lua.
Devo ter vindo de Júpiter
Ou talvez de Marte...
Sei que na viagem,
Desprendeu-se de mim uma parte.
Desde então,
tenho medo do escuro
das figuras da noite
dos cães que uivam
dos ladrões de sombra
que pulam muros
que roubam mundos
e seguem, sem olhar pra trás.
Confesso, não entendo.
Suas regras todas
Suas leis tolas
Sua ética etílica
Sua cética moralista
Cada qual na sua conquista
Egoístas demais.
Consumistas demais.
Existem em excesso
e em excesso morrem.
-É, eu não sou daqui

..e não entendo.

Count on

Nem toda justificativa é plausível
Nem todo verso é nocivo
Nem todo promotor tem juízo
Nem todo político é ladrão
Nem toda fome é de pão
Sequer me estenderam a mão
quando eu caí
Sequer me foi oferecido,
um copo de uísque com gelo
à vida, um pouco de tempero
um abraço, que calasse o desespero
E aos que tem pressa um apelo:
Sai dessa!
“A vida é mesmo coisa muito frágil, uma bobagem, uma irrelevância…”

O Bêbado e a Cidade Cinza.

Trôpego, o bêbado passeia.
Invisível aos olhos dos que sem tempo
Correm contra o vento e morrem a favor
Numa maré de urbanóides ocos
Fundidos pelo piche
Concretados à cidade cinza.
Restam só cinzas
Do verde que antes ali habitava e embelezava
Das flores, das frutas
Mas a velha labuta deu lugar ao crescer,
Que deu lugar ao morrer e abrigou a fábrica,
O prédio comercial, a vida em algo banal.
Correrio de esquina-em-esquina
Uma moeda pra menina e pro menino não.
O velho estende a mão no sinal fechado.

Quem nunca foi amado,
            não sabe o que é amor.
Quem nunca foi roubado,
            não sabe do horror.
Quem nunca velou alguém,
            não entende muito de dor.

Das esquinas brota a sina
Da mulher da vida pela própria
                                             Vida.
Uma briga por dia.
Um leão por noite.
Não fosse pouco o açoite
De uma sociedade brega
Que não faz o que prega.
Maldiz o rapaz, alienado
                                    Alien nato.
Juventude alheia,
Um banquete pronto
As oito-e-meia em ponto.

Não há fronteiras na cidade cinza
Não há limites pra quem se aproxima
Cada alma pode ser a próxima.
Cada criança pode ser a nossa.

E assim segue o baile
Dos que só entendem braile
Cegos de visão perfeita
Olhando de cima dos muros
Surdos-mudos.
O dito trio dos macacos:
Que não opinam, mandados
E os que criticam, coitados
E os que se opõem:
                     mal-falados
                             mal-vistos
                                     mal-quistos.

Mas na cidade cinza
O luxo vem do lixo,
E o lixo vem do luxo.

Da cinza-cidade,
           só nos restam
                   cinzas-maldade.

Um Sopro de Vida e Só.

E naquele momento, naquele minuto em que o mundo parou e o céu desabou, foi quando ela percebeu algo que sem querer, até então, deixara passar.

Naquele instante, teve noção do quão frágil é a nossa existência.

(Somos como porcelana ou taça de cristal, estrela cadente ou trovão… somos frágeis e breves.)

Lembro claramente de suas pálpebras inchadas, guardando seus olhos cansados de tanto se inundar em prantos chorosos. Era dor demais pra caber naqueles olhos, transbordavam.
Alguns momentos de insanidade a faziam dar trégua ao choro, dando lugar a cenas mais deprimentes que as próprias lágrimas.

Era a coisa mais triste que eu já havia presenciado. As lágrimas que escorriam nela também jaziam em meus olhos, eu era pequena, nova demais pra entender a dimensão daquilo tudo. Mas, meu coração estava tomado por um desespero tremendo, não sei dizer, agarrei minha mãe pela cintura como se nunca mais fosse soltar. Sabe, doía olhar…
Aquela menina.

Lembro como se fosse hoje!

Dentro daquela caixinha branca, tão pequena! Parecia tão confortável, juro, devia ser por causa das margaridas que cobriam seu corpo, tão pequena. Seu rosto inchado, branquíssimo, e os olhos fechados de uma serenidade única. Uma verdadeira blasfêmia aqueles olhos, sempre tão iluminados e sorridentes, estarem assim selados. O cabelo negro, o qual seu pai cuidadosamente acariciava enquanto balbuciava algumas palavras inaudíveis, como numa confissão, sem levantar os olhos.

Não tinha quem não se comovesse. As pessoas não sabem como agir numa situação como essa, e nem devia ser preciso saber.
Um festival de corações tocados e olhos encharcados, era penoso, andavam em círculos como que pensando em uma solução para algo deveras insolúvel. Alguns, cansados, sentavam e fixavam seu olhar em um ponto qualquer no chão, reflexivos.

E eu, assistindo àquilo tudo, só conseguia pensar em como a vida podia ser tão dura, triste, imprevisível, chocante, escabrosa, maldosa, injusta… Vida injusta! (caía uma lágrima)

Coisas desse tipo enchem a gente de sentimentos confusos, dor, pena, ódio… Alguns palavrões.

Mas aquela mãe… É algo que vai ficar para sempre em mim.

-Acho que agora já posso acordar ela não acha? Levar ela pra casa…

E A Vida Levou

Desemboco em ruas escuras
Sou vento
Sou raio
Sou chuva
Faço a curva onde o olho não alcança
Não chego onde brinca a criança
Brindo a noite, o fel das horas
E quando todos vão embora…
Eu fico.
Sumo das coisas feias
Junto aos buracos do asfalto
Se a solução fosse um salto
Eu pularia.
Vivo no esconderijo
daqueles que há muito fogem
e não sabem...
Porquê. 
Do que.
Não sou ator ou plateia,
sou figurino velho numa coxia suja.
Dos animais sem mãe sou sombra,
O barulho na janela que os sonhos assombra.
O gato preto de olhos amarelos,
por sobre a mureta
por entre os prédios...
Que exalta a lua
Que pertence a rua.
Lençol de motel
Meretriz ao léu
Na roupa, o mau-tom
Na boca, o batom
E a camisola em chiffon
Barata.
Acendeu um cigarro, pigarreou
Aproximou-se do carro e parou
Pobre criança que o vento levou
As esquinas, o ócio, a noite…
Se encarregaram,
Ela esfriou.

Bebeu, 
fez, 
sofreu, 
usaram, 
usou.
A vida complacente,
assistiu a metamorfose
Da criança carente
em mariposa.
Já era tarde...
Ela esfriou.

Listen..

Faça um favor, uma boa ação. Empreste um ouvido ou dois. Não é necessário prestar atenção se enganares bem a quem escutas; alguém que há tempos labuta, de mãos calejadas, pés já cansados e histórias-em-metro para desenrolar.
Gente precisa de gente. De ombro, mão, braço e abraço, ouvido e olho-no-olho, sorriso e palavras açucaradas, de algum afeto… calor humano mesmo o corpo não passando dos trinta-e-seis graus Celsius.
Deixe o velho bêbado falar, a velha trêmula na parada de ônibus, o segurança da casa noturna, o viúvo que traz a amada na urna;  ou então o dono do bar, a diarista com os filhos pra criar cujo marido fugiu com outra deixando as contas pra pagar; o escritor mau-sucedido que por dramas mau-resolvidos já tentara se matar; a menina que encontrou um louva-deus no jardim ou o garoto que sofre dores-de-amores sem fim.
Saber ouvir, bem como, saber falar.
Uma troca de olhares ou um sorriso bem dado podem melhorar o dia de alguém... mas, ouvir esse alguém pode mudar mais; tanto ao falante quanto ao ouvinte... cabe a ambos o prazer de aproveitar a prosa, o verso, a rosa, o gesto…
E se acaso couber também um abraço, que seja sincero, pois não há troca de energias maior que essa. Abraçar alguém é acolher, é esquentar, é “vai ficar tudo bem” e também “obrigado por existir”… é um quebra-cabeça único, algo magnético, magnífico, mágico.
Felicidade é aprender com os tombos alheios algo de valioso, sensato é aprender com os nossos próprios, burrice é não aprender com nada, e por fim, é estupidez persistir no erro.
Acaso não lhe sobre nada, nunca lhe faltarão histórias, pois a vida é feita delas. Sejam boas, ruins ou irrelevantes, suas, minhas ou nossas, chatas ou fascinantes que sejam ouvidas nossas histórias.
Pois um caminhante que caminha e só, nunca há de estar sozinho se o que lhe acompanha é o próprio caminho.

Important for what

Foi quando eu disse “para tudo!”, que percebi o quão longe estava indo… E sem perceber, fui esquecendo de quem eu era, meus princípios todos, em prol do que algum dia eu julguei ser ideal pra mim… Não era.
Ideal é não medir sentimentos ou evitar sofrimentos, é não ter medo de ficar sozinha por se achar má-companhia, é pular sem medo e aceitar o que estiver por vir, é não ser vítima de si e quando deitar a cabeça no travesseiro dormir, não ter medo de ferir os outros, porque um “joelho-esfolado” faz parte do que é viver, e mais, te digo garota que ninguém além da sua mãe vai pensar em você…
Quando for sonhar, sonha pra valer, e corre atrás do que é melhor pra você, mas não pisa em ninguém não viu?! Porque ser humano não é degrau, muito menos step, se queres subir tem que agüentar a escalada.
A vida pode não ser piada mas te garanto que não há terapia melhor que boas doses de risada, com os amigos, uma cerveja gelada, abraços apertados, happy hour, quebra de rotina, um bom filme num dia chuvoso, whisky, alguns livros… música!
Minha meta agora é aprender a conviver comigo, se possível for, me amar… Amor-próprio em doses homeopáticas.. é do que eu preciso, pra me curar de mim, dessas dores-de-cabeça, trocas de humores, crise-de-identidade, insônia, e, principalmente dessa preguiça, preguiça em viver, preguiça de ser…
Estou convicta de que tudo vai dar certo, esperançosa sempre, confiante nem tanto… Vou seguindo em frente sem olhar muito pra trás, porque meu bem, o passado é careta, o presente é que esta em alta, o presente é o novo preto! E o futuro? Ele vem, e isso basta, sem muito stress, futuro demais causa rugas.
“Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento…”

Unusual

Sutilmente escabrosa, silenciosamente estapafúrdia, inquietante, arredia, docemente ácida, inocentemente áspera, inesperadamente inóspita, ardilosamente austera, singularmente composta, espantosamente humorada, tristemente perplexa, tipicamente fugaz, sutilmente espaçosa, supostamente delirante, filosoficamente mutante. Instável, complexa, enigmática, intensa, intuitiva, dramática, apaixonada… bela.
Novela, cinema, canção, drama, comédia, refrão… viva.

I just wanna you to know, you’re far from the usual… far from the usual.

Not Enough

Tinha este pequeno problema, as palavras me inundavam, me inundavam e eu não as sabia distinguir, diferir, desmembrar, figurar, vislumbrar. Elas todas vinham onipotentes, imperativas, restritivas, ordenando que as expressasse de alguma forma, qualquer forma, errada forma, pequena forma, estridente forma, medíocre forma, mas alguma forma!
Pois fosse pelo fato de ser tão facilmente vulnerável ao sentir, ao alheio, ao leigo, ao meio, aos outros.. Uma amante dos sentidos, tocada pelas pessoas e pelas coisas.
Senão, então fosse pelo fato de ser tão variante, inconstante, irregular.. como pluma jogada à brisa, sambava pelo ar sem paradeiro, sem porque.

Rua

Gosto de caminhar pelas ruas.
Assim sem pressa, só caminhar…
Observando os passos apressados, a espera, o atraso, a briga, o semáforo, o rosto cansado, o corpo que resiste à rotina, o cansaço que abate, a tristeza que transparece, a transparência que padece, a preocupação.
As compras do mês, o consorcio que machuca o bolso, o bolso furado, o salário apertado, o mês que passa arrastado…
Dos dias de chuva às gélidas noites, olhares efusivos, lascivos, corrompidos, sofridos olhares!
O querer mais que poder e o poder que nada faz por vós, e a voz que já não se ouve, e a sós…
Caminha,
sob a luz da lua.
Sobre a luz da rua, um manto de estrelas invisíveis alimenta sonhos impossíveis aos pequenos que ainda os tem.
E o trem das horas vem brincar, brindar, a indecência das esquinas, a descrença da menina, da boneca corrompida…
“É a vida…”
É a vida?!
Gosto do silêncio das ruas à noite, da euforia das ruas de dia, dos olhares, dos lugares, dos sorrisos, dos detalhes.

Luxo

Queria uma casa pequena, num canto qualquer que fosse sossegado o suficiente para se ouvir o canto das aves ao amanhecer, tirar uma soneca na tarde e então ler um bom livro ao cair da noite.
Uma casa de madeira com móveis também em madeira, um fogão a lenha e um colchão no chão, muitos gatos pela casa e um cão de guarda pelo pátio, muitas flores no jardim e uma árvore que faça sombra, uma varanda onde bata sol à tarde e também uma cadeira confortável, uma geladeira velha e alguns bons uísques, uma bela vista e vizinhos compreensíveis quanto ao meu gosto eclético para as músicas e seu volume inacessível…
Mas isso tudo vai ser só no inicio.
Alguém virá. E quando esse alguém vier compartilhar minha morada, ancorando por aqui sem pedir licença, me chamando de amor, me derretendo na boca…
Então amigo, já era… tudo vai ser diferente.
“Sem luxo, descalço, nadar num riacho, sem fome, pegando as frutas no cacho..”

Atenção aos Detalhes: Como Cães e Gatos

As pessoas não vêem muita graça nas coisas..
Tenho um gato preto e um cachorro branco, óbvios e incrivelmente opostos, os dois se dão melhor que qualquer ser que habita aquela casa.
O gato quando se cansa das palhaçadas do cachorro, sobe uma altura de modo a ficar fora do alcance… Então, o cão, muito compreensivo, dá um descanso e nem sequer questiona o desdém do felino. Quando resolve retornar à cena, tudo volta a ser como se não houvera tido intervalo…
O que mais me impressiona nisso tudo, nessa irmandade toda, nessa cumplicidade toda… é a ausência de diálogos.
Não se escuta nada como: “vou contar pra mãe”, ou então, “você que sabe…”, nem sequer, “foi algo que eu fiz?”.. Nada. Sem cobranças, sem atritos, sem opiniões conflitantes. Eles simplesmente… se entendem.
Talvez.. Se víssemos mais graça nas coisas.

Acorda!

Em meio àquele abraço regado de algumas lagrimas… Ele sussurrou ao pé do ouvido dela: “Querida, a vida é um sopro, a vida é um nada… Então corre, e não deixa de lado o que tu gosta, porque no fim das contas isso é o que importa de verdade!”
Só eu sabia a dimensão daquelas palavras, o quão forte bateram em meu peito. Senti ecoarem e o silêncio que veio depois trouxe a plenitude que há tempos tenho buscado.
Vai e faz o que queres pois é tudo da lei… Raul Seixas.
Atirei-me na cama e divagando fiquei a olhar as paredes poluídas de adesivos e fotos. Fotos de pessoas com as quais provavelmente não voltarei a conviver, mas, cuja importância as fez estar ali, materializadas, petrificadas.
Estava exausta, esvaída, pesada demais… Não que o dia tivesse sido muito duro, quer dizer, os dias em si vem sendo bem difíceis, mas meu cansaço era outro, era o nada pesando, era minha inércia. Era eu saturada de estar estagnada entre o “fui” e o “sou”, e sinceramente, não vinha “sendo” muito…
Andava por aí existindo, assim, aos poucos, sem fazer muita diferença pra alguém. Alguns sentiam minha falta, eu acho, não sei.
- Mas o que me fez acordar, definitivamente, foi sentir falta de mim mesma.
Comecei a me procurar. Meus retalhos, o que tinha sobrado de mim… Encontrei meus restos meio comidos por traças, deixados de lado, esquecidos… Quando foi que eu me perdi?
O que eu estava esperando? Quem eu estava esperando?
A vida é breve, e o amor mais breve ainda… Mario Quintana
Passou um carro na rua, nota se pelo feixe de luz que invade o quarto através das frestas na janela.
É a vida… um feixe breve de luz em silêncio.

Síndrome de Peter Pan

Fechou os olhos. Bastou para que toda sua história corresse diante dela, todos os momentos cruciais estavam ali, correndo e de súbito.. também correram lágrimas.
-Mãe..
Disse a garota.
-Eu não quero crescer..
Mas sabia que inevitável era querer fugir.
O tempo é veloz. Ele vem e te rasga, ele vem e te leva.. e quando acordar já se passaram horas, já se passaram anos…
Então virá a dúvida: você ficou ou você passou? O que fez das tuas horas?
A balança é cruel, e te joga na cara o peso do que foi, do que fez, do que errou, do que deixou..
A verdade é uma só, a cada dia que passa tu morres um pouco mais.
E as horas passaram. E os anos se foram.
O agora é eterno, o agora passa..
Passará.. passarinho..

“Amor meu grande amor.. não chegue na hora marcada..”

Infância Difícil...

A vida se torna um jogo sem nexo algum quando os sentidos todos se contradizem ou pior, se desfazem..
Filha mais velha, pais separados, casa dos avós desde os 6 anos de idade.. Escreveria com facilidade um livro de crônicas trágicas a respeito dessa figura que vos falo, calejada pela vida, surrada por tudo e por todos..
Os mais otimistas costumavam dizer que ela sobreviveria, os realistas, que jamais poderia dar certo..
Pai alcoólatra estourava “pedra” na lata, se contrariava, se contradizia.. sempre sem rumo, se algo o incomodasse era ela quem pagava penitencia.. Apanhava sem saber porque, sem que houvesse sequer um porque..
Pulava a janela, fugia de casa, qualquer lugar era refugio, qualquer canto era mais lar que a casa em que morava.. corria pras ruas.
Aos doze já não era mais virgem, a vida lhe roubou isso, esses caprichos e noções que as garotas costumam ter, não, ela era simples de viver.
Aos quinze debutou na cadeia, presa por pichação pagou com serviços comunitários.
Aos dezesseis, repetente, largou a escola e foi trabalhar.
Era briguenta e não costumava levar, desde muito cedo aprendeu que se apanhasse na rua apanharia o dobro quando chegasse em casa…
Mesmo em meio a todo o turbilhão no qual costumava navegar, sempre fez questão de ensinar certo e errado aos seus irmãos mais novos e, com a mesma psicologia com a qual fora educada, batia neles se saíssem da linha..

“moleque, faça o que eu digo e nunca o que eu faço..”

Exercício de fé

Então calou as vozes na sua cabeça, silenciou pacientemente seu espírito, fechou suavemente os olhos, relaxou minuciosamente seu corpo… Assim pode ouvir sereno e nítido seu coração. Sentiu um calor que fluía de dentro. Seu pulsar alto e claro, sua respiração sob controle, e era só, um só sentir, um vazio cheio, um momento abstrato.
Abstrai. Desobstrui..
Calmamente, se pôs em prece como há tempos não fazia… Concentrou se principalmente em resgatar a fé esquecida, o fervor escondido naquele canto escuro de sua alma.. a prática que costumava ter quando criança..
Humilde e desajeitada, ela não hesitou…
Senhor, não sei se ainda lembro como se faz, mas se o que vale é intenção, então há de me prestar alguma atenção..
Sabe.. os dias vem sendo difíceis. As horas se arrastam, e por vezes chego a ouvir suas correntes, sentir seu penar.. pois sei, que tristes são as horas..
Ando fugindo muito ultimamente. Fugindo dos outros com a simplória e esfarrapada desculpa de me encontrar, quando na verdade, fujo de mim e só. O tempo todo sem cessar..
Mas pularemos essa parte em que me apedrejo e comento meus erros todos..
Sei que já tem conhecimento de minha trajetória, e sinceramente, acho conversa fiada essa de pedir perdão a quem não se fez coisa alguma.. Meu erro foi com meus iguais por aqui, e válido é, não mais os repetir se assim possível.. me comprometo com essa parte na medida do atingível…
Quero falar da minha gratidão por tudo, gratidão por todos. Por tudo que tive, tenho e terei. Por tudo que vivi, vivo e viverei. Por todos os que por mim passaram, por todos com os quais  tive o prazer de crescer, enfim, por tudo que tive a sorte de aprender com todos eles..
Grata pelos tombos, pelos esporros, pelos tropeços, pelas pedras no caminho, pelo espinho na rosa, pela rosa no jardim, pelo jardim..
Grata pelas estações, por tantos verões, pelas belas canções que embalaram humores, que sonorizaram amores, que velaram prantos sem fim..
Obrigada, muito obrigada, pelos anjos, esses que chamamos de amigos, esses os quais chamo de irmãos..
Agora sem mais delongas, milongas ou voltas sem fim.. Quero um favor, um só, simplório, inglório e até meio chorado..
Cuida deles?
Cuida bem deles, pra que quando eu, pessoalmente, não der conta, saiba que estão amparados por ti..
Cuida pra que nada seja em vão, que nada seja mediano ou vil em suas vidas, que as vivam plena e sem arrependimentos, que sorriam sempre mas que por vezes chorem, que sejam felizes demais mas que sintam tristeza de vez em quando, que não se sintam sozinhos nunca, que tenham quem amar e que se amem só o suficiente. Que eles vejam a beleza do simples e que vivam humildemente, que olhem pros lados sempre e nunca pra trás, que durmam bem à noite e acordem de bom humor mesmo no inverno.. Cuida pra que dê certo pra eles, pra que caminhem direito, pra que saibam escolher.. enfim.
Cuida deles só..

Amém e boa noite..

Illusion

Sabes, bem como minha avó costumava dizer, “querida, de ilusão também se vive!”..
..Essa frase tem ecoado em minha mente tanto quanto a intensidade com a qual era pronunciada, fervorosamente, à mim por ela..
Talvez, seja imensamente melhor viver do lúdico..
O real pode ser muito feio, quando o ilusório, este, se molda a bel-prazer.. a verdade por vezes machuca, fere inexplicavelmente, quando o inventado obedece o querer sem questionar, se tornando a suma do belo..
Contudo, corre se o risco de subitamente acordar.. e então o tombo é feio, é pior e maior, vai doer tanto que podes não aguentar a queda e logo lembrarás de algo que deixou passar despercebido..
Ignoraste que a ilusão é prima-irmã da mentira, que a fantasia é uma máscara de carnaval fora de época, fora de moda e que ao desgastar com o tempo, facilmente padece, cai..
Não existe. Inventa. Faz de conta que..

Not a nice girl..

Eu não sou legal.
Repetia em voz baixa, esperava que eles ouvissem e se afastassem a tempo.. corre!
Verdade que nunca falhei com relação a amizades, convictamente vos falo..  Mas ultimamente vem sendo difícil até isso, sair de casa, vestir um sorriso de nada, e enfrentar o frio das ruas, os rostos indiferentes, as vozes manipuladas, os passos contabilizados..
Tirei um tempo pra mim, espero que me entendam se puderem, se conseguirem.. Precisei!
Não estava tudo bem, e não me bastava mais responder que sim sinicamente.. Amo cada um dos que cativei, assim como o pequeno do livro, me considero eternamente responsável por cada um.
Me fazem falta nossas conversas bobas, nossas opiniões afins, nossas loucuras, nossa cumplicidade.. Mas eu precisei!
Agora me entendam e me acolham enquanto corro à vós.. Talvez eu precise de colo, de palavras quentes, de abraços justos, de carinho gratuito, sem porquês..  Mas sei que não será problema, tanto agüentaram, tanto fomos, tanto fizemos, tanto!
Mas tenho medo amiga, amigo.. de cometer os mesmos erros.. não deixe! Não me deixe a sós comigo daqui por diante, eu não sou legal!

Música

Acho que Johnny Cash me entenderia, talvez Amy Winehouse, mas certamente Raul Seixas..
Essa minha preguiça de viver, essa minha gana de ser, essa minha raiva de ver, essa minha alegria em perecer..
Tomei um analgésico qualquer, ajeitei o travesseiro, dois, minha intenção não era dormir, mas divergir comigo mesma sobre algo errado em mim.
Essa inconstância que causava náuseas, esse amor a tudo, esse amor de nada, aquele sentir descompassado, aquele pensar desalinhado, esse querer desenfreado, esse saber desnorteado..
-Sai de mim incoerência! Vá dar seus ares em outra vizinhança!
Subitamente, quis me desculpar para todos aqueles com os quais falhei, errei, machuquei. Talvez até o fizesse, mas isso era coisa pra amanhã..
Era imensamente mais difícil pensar em mim, e mais urgente, afinal, nunca havia o feito.. pensado em mim.
Sempre adiei essa situação, em que se põe à julgamento e se é então, juiz , advogado de defesa, promotor, júri, cúmplice, vítima e réu..
Deitei, olhos pro teto branco, vazio e escasso... sem respostas!
Perguntava e sem dar pausa respondia... Quem era, o que tinha feito esses anos todos, o que restara de bom, de útil, nessa carcaça ainda que nova, corroída pelo tempo e vento.. Questionava meus erros e minha forma de pensar, minhas tolas convicções.. burra.
-Alguém desliga essa música da minha cabeça!

"Loucos num mundo em que os normais fazem bombas."

Invejava profundamente o fácil, pois era de sua natureza complicar se.
Tudo virava drama, se enredava facilmente em tramas diversas, verso virava prosa, prosa virava novela, trash.. Se lia, trash.
Cada vez que fizera auto-análise se achou um tanto, ou mais, ridícula quanto a epifania anterior a tal.
Invejava alguns amigos, estes simples, cuja existência era um orgasmo infinito, toda possibilidade era viável, alcançável, palpável.. Cada bareco: um lar, cada rua: estrada infinita, cada sorriso: dádiva, cada dia: o ultimo e a vida um jogo de prazeres desfrutáveis.
Fato que nele via a suma do crédulo, a simpleza em pessoa este meu amigo. Peculiar eu diria, mas de uma simplicidade que até deus duvida..
Bom ouvinte, desta que vos cita, reclamona por nascença, chorona por opção, ou talvez por não saber ser doutra forma senão de extremos, cheia de choros e velas, rainha dos dramas.. enfim.
Compartilhava de meus devaneios, rebeldias e analises de um qualquer sistema falho.. Sem religião, sem aspiração, sem credo, sem medo. Éramos novos para saber de um mundo velho, mas criticávamos como formadores de opinião. Afinal, tínhamos a nossa bem lúcida e arredia, mesmo que sujeita a intempéries, tais como tempo, vivências, velhice.. tempo.
Por hora éramos nós, somente jovens escabrosos sem cabresto, anti leis.
Compartilhávamos nossos sons, nossos gostos, trocávamos figurinhas, artistas, arteiros, semelhanças, meus problemas, suas soluções, minha bipolaridade, sua paciência astral, meus defeitos, suas histórias, minha carência, a presença dele..
 Sobre tudo, era grata por te-lo, por ter tido a chance de conhece lo, por dizer a ele tudo que pensava sem restrições e observar suas reações, me acolheu!
Grata por existirem anjos, grata pela luz que radiava em mim.
Tem sido ótimo esse tempo contigo, caro amigo de não tão longa data, muito acalanto, afago e alento.
Fica mais, chega mais, o dia recém clareou, senta, toma um café, troque algumas palavras cruzadas…  te amo.

Baila, bailarina.

Pequena grande estrela, na sua noite de estreia, bailarina mais bela, no palco da vida..
Não chora menina, não era sem tempo, de ficares sabendo que o mundo tem disso..
Ratos traiçoeiros, ruas esburacadas, feitiços..
A estrada é tortuosa, as corujas na noite são ávidas, os cães de dia são vívidos, os gatos à lua se revelam.. e tu dormes.
Serena, intacta, dona de toda luz do mundo, no ócio de tudo, ali te encontras... e dormes.
Não deixa que te apontem, afinal és astro, és estrela!
Não deixa que te contem, não dê ouvidos à essas bocas pérfidas, à esses corpos nulos..
Dificilmente deixa que abalem teu eixo, teu equilíbrio sereno, teu espaço é só teu e bon vivant nenhum há de tirar proveito..
Esse é o efeito.. da bailarina, que quando menina caiu da ponta, ficou tonta, e agora.. na ponta do pé.. só conta, que sabe dançar..

Acorda

Porque eu gosto do lúdico, do sonho, do fantasioso, do irreal, do surreal, do perfeito, do efeito, do inventado.
Acorda, lava a cara, veste a casca, que a realidade não da descanso, te acorda cedo, te arranca o mel do sonhar, te joga ao fel das horas.
Criança, levanta! Já são horas.
Essas de crescer, essas de morrer, de não mais querer, de ser sem sonho.
Calça teu falso riso que o sino já tocou, e o nome dele é despertador.
Dá bom dia, cafeína, falso humor, obrigação, prestação, trabalho, dobrado, corre, corre.. Já são horas.

Inerte, não existo..

 Ando com uns ares, esses de fugir de tudo, esses de fugir do mundo, porém, nenhum lugar é longe o suficiente para que eu fuja de mim. Não me suporto mais, não caibo em mim, não sei conviver comigo e toda essa minha inconstância somada à vontade de ser não sei bem o que.
 Seria tão mais fácil deixar de ser, assim, simplesmente fazer o caminho inverso da frase “penso logo existo”… Parar de pensar, parar de existir.
 Ontem mesmo; enquanto empunhava uma taça de vinho e reclamava aos céus.. reclamava à lua na verdade, sempre tenho a impressão de que alguém lá me assiste, me escuta, e inerte nada faz a meu respeito.. percebi que inúteis são, todas as minhas queixas senão para aliviar de mim a culpa por não ser nada, além de um peso no universo.
 Não faço diferença e provavelmente você também não faça, sequer aquele ser que habita a lua faz.. somos encargo, somos excesso de bagagem. Eu me sinto assim às vezes, logo passa, mas é bom cuspir isso por aqui.
 Penso que todo ser humano já quis prestar pra algo que fosse além do clichê “nascer, crescer se reproduzir e morrer”… Já quis mudar o mundo, já quis realmente mudar as coisas, e mais, pensava em como, efetivamente, o faria.
 Planos revolucionários, um jeito de terminar com a fome na África, salvar animais em extinção, cursar medicina e ajudar feridos de guerra, invadir o plenário, viva o anarquismo e afins…Enfim, coisas que hoje, a essas alturas deste sórdido campeonato, já não fazem sentido algum pra mim.
 Eu era tola, de sentimentos e cabeça pura, coração intacto, amando o mundo e as pessoas… Hoje, bom, hoje já não posso dizer o mesmo que antes dizia sem pestanejar… não sei mais ser aquele ser que antes aqui habitava. Não sei se o perdi ou se aqui iberna oculto em minhalma.. só ando por aí existindo e sendo às vezes sem querer, às vezes desgostosa comigo e com o mundo, transitando entre extremos, escrevendo palavras aos ventos..
interrogações, exclamações, reticencias.

Nostalgia

E hoje, hoje eu precisava de silêncio.
Talvez de boa música acompanhando uma dose de uísque.. Mas silêncio de alma.
Precisava meditar, precisava me encontrar pra saber o que eu estava pensando de mim, comigo, pra mim.
Seguidamente me via em encruzilhadas, errante, inconstante, inconsequente, mutante.
Mas algo em mim gritava uma diferença nos traços que tracei, não sei ao certo quando mudei mas enfim, cronogramas só são úteis para planejamentos futuros e eu sinceramente não gosto de fazer muitos planos. Eles sempre vêm com aquela tarja imaginaria que diz “e se”, não gosto de “e se”.
Mudei pra pior talvez, trazia um desanimo natural de quem em algum momento se frustrou com a vida. Não era verdade, eu gostava da vida, gostava das pessoas, não todas, não eu, mas gostava de andar pelas ruas imaginando suas vidas, olhando em seus olhos, e os sorrisos então(ah os sorrisos!)... A mais bela voluntária expressão humana. Por vezes falsos, mas quando verdadeiros transbordam a aura do ser que ali habita.
Andava tragando a vida com medo que por vezes ela me tragasse. E tragava. Impetuosa e impertinente tragava meu eu e em mim sobrava a carcaça de um ente, que antes são, agora doente, via a vida do escuro de um escuro quarto salvo raros feixes de luz que cintilavam minha nostalgia de ser feliz.
Larguei-me sob a rede na varanda com meu chá em mãos e ali fiquei por algumas horas a olhar as estrelas. No centro da cidade não aparentam tão radiantes quanto vistas daqui, sempre vejo cores nelas mas o que importa… Pensava em ti. Meu chá esfriou. Já tarde da noite padeço em meu leito leigo de ti, só eu e mais ninguém. Volto à penumbra da minha inconstância, volto pro escuro, não sonho enquanto durmo, mas acordada te vejo em cada centímetro, a todo instante. Tu sem mim, eu sem ti, eu sem mim mesmo comigo.

Ma(in)nual

Não planeje.
Se abstenha um pouco dessa realidade que ainda não aconteceu.
Não almeje.
Se detenha ao que está ao seu alcance.
Não pragueje.
Se desprenda da hora e viva o agora.
A ampulheta foi posta sobre tua cabeça.
Veja, sinta, faça, aconteça o que acontecer não espere!
Não deixe o hoje pra ontem já frustrado com o amanhã invisível.
É passível de dúvida a existência do depois.
Não queira depois se arrepender por hoje não ter feito o que agora passou por ontem não ter sido.
Não se submeta a julgamentos quaisquer, não serão estes olhos famintos cheios de eiras sem beiras, que lhe apontarão o caminho que teus pés percorrerão.
Tema veemente o meio termo, o morno, o raso... Grite.
Questione-se a cada passo dado e só olhe para traz pra respirar um segundo.  
Valeu a pena, mesmo os tropeços e quedas.
Se frustre, chore, e por favor nunca se acomode.
Pasme com a vida e todo seu tônus e nuances.
Seja a certeza do ser, fingindo saber que o futuro existe.
Quando na verdade há só o hoje, que ao saturar vira ontem.
E o resto?
Interrogações.

Xis da Questão

Olhava a chuva.
Acompanhando a velocidade das gotas estavam minhas lágrimas.
Como sulco de uma laranja madura quando espremida, porque espremido estava meu coração sem notícias tuas.
Não consegui disfarçar mas não quis conversar, mesmo se quisesse, sei que minhas cordas vocais não acompanhariam e facilmente engasgaria tropeçando em palavras cruzadas.
Tentou me acalentar dizendo que todos sentem dor, todos sofrem... perdas. Bullshit
Não. Não. Não.
Nada estava certo, nada no lugar, nada podia ser real naquele instante.
Como se num pesadelo, esfregava meus olhos freneticamente e secava o salgado das lágrimas que escorriam em meu pescoço e que se confundiam com o amargor da chuva.
Me encontrava em prece havia um tempo já. Tempo esse que dolorosamente se arrastava para os que, como eu, esperavam notícias tuas.
Te espero aqui, pra te ver sorrir e dizer que nada foi, pra gente poder seguir… Contigo.
Eu te amo muito. Desde o dia que eu te conheci te amei. Como um raio de luz celeste que clareou meu céu de um jeito único, minha estrela.
Brilha forte, mas brilha forte agora que tá todo mundo olhando.
Vem!
Pra gente poder então, descobrir a razão, disso tudo…
O xis da questão.

NO RULES

Não há regras. Assimile…
Cada situação corriqueira, ou não, do cotidiano que protagonizamos é de fato um ato singular ou seja, único, nunca mais podendo ser igualado ainda que o faça repetidas vezes sem cessar.. vale lembrar a tese de Heráclito, “Nós não podemos nunca entrar num mesmo rio. Assim como as águas, nós mesmos já somos outros".
Bem como nenhuma situação é passível de “repeat”, teimo em dizer que sequer são possíveis de pautar. Explanarei.
Um diálogo recente me trouxe a esta divagação na qual me encontro agora.. falávamos inicialmente sobre o perigo dos sentimentos, e enfim desembocamos no mais periculoso de todos eles, o amor.
- Primeiro, deixemos claro, sentimentos, emoções, até mesmo razões.. achas mesmo que quando nos referimos à “homosapiensas” em geral, há de fato verdades absolutas? Se credes nisso, pare agora sua leitura.
- Como regrar eternas variantes, voláteis, volúveis… sereshumanos ?!  
Cada caso é um caso meu caro Watson. Não há como (metaforicamente falando), julgar que todos os coelhos tenham saído de uma mesma cartola ou então, que estes mesmos coelhos (todos brancos) preferirão cenoura à rabanete.
Eis o ponto da discussão no qual estou tentando chegar: mesmo que tudo seja o mais “perfeito” possível, que todos os ingredientes tenham sido adicionados eximiamente… Não quer dizer, em absoluto, que sua mistura irá vingar! Sequer significa que o resultado será o mesmo ao repetir a receita… Isso se aplica a qualquer espécie de relação humana.
- Por uma graça do universo todos diferimo-nos uns dos outros, e é isso que dá graça ao jogo! Ser previsível é desprezível!
Esboçamos reações diversas em situações diversas. Somos suscetíveis ao meio e aos outros. Temos “gostos, cores e amores” dos mais adversos, nos atraímos bem como nos repelimos, sentimos coisas que nunca conseguiríamos descrever ou explicar, ora choramos, ora sorrimos, nos distraímos uns com os outros, esquecemos de nós, penso nele quando ele não pensa em mim…  
Somos assim, uma mistura de começo e meio que nunca tem fim… Irregrável, é a regra.
Veja bem.. em meu ápice de incoerência, loucura, mesquinhez… titubeante, acabo de findar a tese que virou regra, e se regras não existem, logo…
Sem fim, a essência, é só… reticências.

Bem me quer?!

A realidade é que estou desiludida com esse tal de ”amor” de que tanto falam.
Os romances que li tem se afastado tanto da realidade que atualmente os mais próximos talvez sejam “Édipo o Rei”  e “Hamlet”, esses, nos quais o autor mata todos no final do livro e fim. Infelizes para sempre.
Andei me questionando o porque disso tudo, fui até a parte do “ok, somos seres dependentes de relações sociais sejam quais forem…” . Mas nada é conciso o bastante para explicar o porque necessitamos desse elo com o oposto, nada explica o fato daquele sorriso valer o dia, suspiros encantados e toda essa baboseira que só os alheios a isso (os telespectadores) percebem, porque afinal, para os internos faz todo o sentido.
Porque raios a solidão é algo triste? Convenções, conceitos, clichês.
E o mais irônico nisso tudo é que por mais que quebremos a cara, voltamos à estaca zero e ali estamos novamente, como peixes enredados. E, quando não “enredados” fazemos o tipo “sabiá na primavera”, procurando loucamente a “rede” mais próxima.
Mas também, tola eu em me questionar sobre algo tão ininteligível,incompreensível, irracional.
O fato é que estou absorta, embasbacada de como tudo pode ser tão estupidamente ambíguo, sórdido, traiçoeiro, mutante, transformador, lindo, feio, incrível, frustrante, sagaz, chato.. tão tudo! E tão tudo ao mesmo tempo. Contraditório.
Mais um ponto de interrogação, assim vou somando…
Bem me queres, mal me queres, tanto faz…