sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

POEMAS À PRAGA (Poema IV: Das Partidas)

O chá esfria e as palavras se esvaem...
Como podemos fugir?
Como podemos ficar?

O cigarro não amansa mais,
ante ao sentimento de adeus
que ladeia nosso abismo particular.

Pudera eu ficar nesta cava
por todo o sempre assim,
alheio ao amanhã e ao ontem,
sem medo da morte.

O chá esfriou.

Morte o que é,
senão um chá que esfria
e acaba pela metade?

Chá o que é,
sem teu teto nouveau,
tuas paredes ornadas em ouro,
mais teu sabor gengibre-quente?

Te bebo.
Te fumo.
Te amo.

Te deixo...

POEMAS À PRAGA (Poema III: Dos Prazeres)

Acordava em teu seio
como criança que dorme embalada.
Me acordavas com um sorriso de bom dia,
me acariciava o rosto e acalmava minhas tormentas;
meus demônios notívagos, meus medos todos.

Por hora era cria tua,
era pequeno demais pras tuas linhas complexas,
pro teu cerne cativo e explendores todos.
O brilho em meus olhos acendia ao teu toque,
e teu abraço anulava as baixas temperaturas
(de um inverno nada cordial).

Te coroei rainha do meu mundo fantasioso,
e a coroa vestia bem teus luminosos cabelos ocre.
Tua íris castanha me agradecia calada,
e minhas mediocridades te bastavam;
eu estava completo...

Repleto de teus prazeres,
estava eu, tão pequeno...

Completo.

POEMAS À PRAGA (Poema II: Das Renúncias)

Estendi meus planos, insatisfeito, com cede de ti.

Te desejava e te despia
um pouco a cada esquina,
a cada prédio barroco,
a cada obra de Mucha.

Não tinha pressa,
apesar das horas correrem contra mim.

Parávamos em meio a multidão,
nas horas exatas,
para assistir o exibicionismo dos apóstolos na torre.
Quarenta segundos se passavam estáticos,
logo voltava a beijar-te.

Fizera-me refém de ti.
Refém de teus braços e pernas.
Refém das tuas noites frias.
Refém de Kafka e de Charles.

Sobre a ponte cogitávamos suicídio
da forma mais bela, lúdica e poética.
Era eu, tão apaixonado por ti naquele instante,
que nada mais existia...
Nem passado.
Nem mundo.
Nem ninguém.

-Minha cara, o tempo não existe...
e tão pouco pode correr.


POEMAS À PRAGA (Poema I: Das Epifanias)

Das mesas de granito às cadeiras em madeira precisamente ornamentadas,
sob um pé-direito de uns oito metros ou mais;
tomei meu chá, fumei meu cigarro e
declarei meu amor por ti.

Teus ornamentos, formas, humores,
cores quentes, histórias e paixões.
Vi teus medos, teus zelos e preces,
tuas faces, teus sons e tua dança.

Como podia, naquele instante,
não te amar perdidamente?!
Te amei.

Em teu rio me fiz água corrente
querendo ficar...
Não podia.

Sente meu choro,
minha amada.

-Não posso ficar.