todos os dias penso nos deveres mas calo amorfo num canto
Alguns tentam me achar, me procuram em quartos vazios
não respondo aos gritos e preocupações, sequer suspiro
Se pudesse fugia maior, fugia mais forte, fugia mais longe..
Presenças confortantes me desconfortam prensando o grito
vejo precipícios em todas as portas que batendo não sei voar
Penso nos torpores que nunca senti, morro um pouco por querer
fumo meu cinismo mais a raiva intrínseca do negar o pulo vascular
Bebo pra desafogar a válvula mitral que me fez sentimental demais
Prazeres que são pouco senão rasos existenciais limitantes do ser
respirar é penoso, mais doloroso é tudo que faz mover entre corpos
Busquei o vazio da página branca, mas as paredes rabiscadas exclamam
uns questionamentos mais uns amores embrulhando humores sem fim
Quero saltar sem pensar na queda e voar uns segundos antes do morrer
Alados os anjos tortos sintéticos derramaram vinho no cenário todo
há toneladas sobre ombros curvos, corcundas de saudades e dores
Tossindo as palavras não ditas das bocas malditas que profanei pensante
regurgito sonhos estéticos demais em busca de uma sinergia oca em eco
Eu prezo por minhas psicoses e me agarro aos surtos, logo durmo..
eu preso nessa reação-em-cadeia que eu mesmo criei
Eu prezo pelo livre surto antropológico inexplicado
eu preso na gaiola surreal das taxidermias vitais
(Alice)