e quando ela disse "todos te abandonaram" eu olhei
pra baixo e respondi baixinho "não, você me abandonou" então sem
querer uma lágrima tocou o chão, e eu as deixei ali.. mais uma vez..
hoje não usarei maiúsculas, nem exclamações,
ponto-e-vírgulas ou ponto finais.. hoje o que me acompanha são as reticências e
a incerteza impalpável do amanhã com sol..
eu gosto das coisas
sem cores
dos versos sem flores
do dia enluarado
do mal explicado
do complexo e do
complexado..
soluçando eu deixei a porta aberta mais uma vez, vi o ódio
emaranhado em suas entranhas e a censura cega vindo do âmago de seu ser.. vi a
nulidade do argumento se esvair por meus punhos cerrados e mais uma vez com os
olhos encharcados de dor eu me fui..
senti que eu não mais pertencia ali e nem ali me pertencia.. senti
como se uma realidade paralela fosse o meu passado e outra de extremo distinta
o meu presente, anulando a certeza qualquer de um futuro previsível.. há tempos
não tenho lar, não me sinto em casa, não vejo calor.. não sei o que muda, não
sei o que mudará na versão de agora, a aversão inglória com que devo lidar, pra
quem devo ligar?
deitei numa cama emprestada com a cabeça vaga e a mente a
rodar.. o sono não veio, o calor não veio e nem de longe o conforto, como descansar?
cochilei uns instantes e um sonho infantil veio me acalentar, brinquei de
boneca sozinha e logo então acordei, quatro da manhã e nada, cinco da manhã e medo,
seis preocupações diversas, sete levanta e vai trabalhar.. a vida te cansa e
não te deixa descansar..
não me eximo de meus erros, não desvio dos meus zelos, não
esquivo dos conselhos.. seja como for seja sentido, seja amor mesmo com dor,
seja real mesmo ferido.. faça, seja e aconteça.. não se arrependa.. desculpa,
eu errei...
eu gosto mesmo de
andar sem rumo
de decidir meu prumo
de não explicar em
sumo
de assistir o mundo..
girar
e agora, pra quem eu
vou ligar?
de todos que poderiam me abandonar, você.