quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

soul só


e quando ela disse "todos te abandonaram" eu olhei pra baixo e respondi baixinho "não, você me abandonou" então sem querer uma lágrima tocou o chão, e eu as deixei ali.. mais uma vez..
hoje não usarei maiúsculas, nem exclamações, ponto-e-vírgulas ou ponto finais.. hoje o que me acompanha são as reticências e a incerteza impalpável do amanhã com sol..
eu gosto das coisas sem cores
dos versos sem flores
do dia enluarado
do mal explicado
do complexo e do complexado..
soluçando eu deixei a porta aberta mais uma vez, vi o ódio emaranhado em suas entranhas e a censura cega vindo do âmago de seu ser.. vi a nulidade do argumento se esvair por meus punhos cerrados e mais uma vez com os olhos encharcados de dor eu me fui..
senti que eu não mais pertencia ali e nem ali me pertencia.. senti como se uma realidade paralela fosse o meu passado e outra de extremo distinta o meu presente, anulando a certeza qualquer de um futuro previsível.. há tempos não tenho lar, não me sinto em casa, não vejo calor.. não sei o que muda, não sei o que mudará na versão de agora, a aversão inglória com que devo lidar, pra quem devo ligar?
deitei numa cama emprestada com a cabeça vaga e a mente a rodar.. o sono não veio, o calor não veio e nem de longe o conforto, como descansar? cochilei uns instantes e um sonho infantil veio me acalentar, brinquei de boneca sozinha e logo então acordei, quatro da manhã e nada, cinco da manhã e medo, seis preocupações diversas, sete levanta e vai trabalhar.. a vida te cansa e não te deixa descansar..
não me eximo de meus erros, não desvio dos meus zelos, não esquivo dos conselhos.. seja como for seja sentido, seja amor mesmo com dor, seja real mesmo ferido.. faça, seja e aconteça.. não se arrependa.. desculpa, eu errei...
eu gosto mesmo de andar sem rumo
de decidir meu prumo
de não explicar em sumo
de assistir o mundo.. girar
e agora, pra quem eu vou ligar?
de todos que poderiam me abandonar, você.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Solidão Coletiva


Massagear o ego é besteira.
Você está errado.
Você é o cerne do problema.
Você é a bola de neve.
Seus dramas não importam.
Suas lágrimas não tocam.
Estás sozinho e a solidão dói.

Não há remédio, porém, remediado está.
Aceita, pois, tua tosca verdade.
Não tens importância; não pesas.
Sobreviva vivendo, não há espaço pra choro.
Essa corrida é amarga, ninguém vai te dar colo.

Sua psicanalista lucra, não se importa.
Seu pastor lucra, não se importa.
Heróis não existem, não há monstros no escuro.
Ninguém te assiste. Ninguém te observa.
Teu marasmo é teu e só, teu ócio particular.

Sentes frio, sentes sede, sentes as entranhas dilatarem de prazer e ódio.
Ninguém vê ninguém ouve, ninguém atende tuas preces.
Aquele santo de barro no altar da sala... É oco.
As penitências, ave-marias, pai-nossos... É pouco.
Teu corpo perece e também te abandona.
As horas correm, os verões passam e ainda sentes frio.
O frio da espera vã pelo conforto do descanso infinito.

Te prendeste aos limites menos aflorados de narciso
Te prendeste aos prazeres carnais dos pecados capitais
Prendeste a ti mesmo neste ciclo insuprível de quereres.
Mas ninguém liga; ninguém nunca ligara; ninguém nunca ligará.
Massagear o ego é inútil.

Ficaste sozinho, a luz apagou, o frio acabou
A vida exclamada, aclamada e querida
Não passou de ilusão que já passou em vão.
Uma renúncia, uma promessa sem recompensa
Deixaste os valores todos numa dispensa
Deixaste os desejos todos num cofre...
Sofres.

Mas ninguém vê, ninguém ouve, ninguém sensibiliza.
Ficaste sozinho e no escuro teus olhos úmidos cintilam
Calados demais, donos de toda dor que é só tua
E que ninguém viu, ninguém notou
Massagear o ego...

Pra quê?

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Muda mudo.


Mal sabeis vós
Mal entendeis pois
Ouça-me bem por
Talvez não dar-te conta
Cada minuto diminuis a conta
Do que não se deve contar

As horas cruéis trazem assombroso espanto quando passadas assim às pressas.
E então olhas, por demasiado assustado, à morte intrínseca que em jovens corpos debruça-se.
Sentes raiva da vida.
Toda tristeza do mundo.
Sentes, pois, o peso das horas ceifadas, reduzidas a pó, reduzidas a nada.

E aqueles que jovens foram, que jovens eram, e muitas horas haviam de ter... Agora jazem na terra que os pariu imperativa. A mesma terra que não lhes deu a chance de recusa, que não lhes deu a chance de também ficar com suas demais horas vigentes.

Mas a breve comoção não lhes é proveitosa senão por curto espaço de tempo. Querem então justiça, querem então mudar o mundo, e querem mais, querem o amor que até então era egoísta e presunçoso.

Tão logo, estarão de volta à sua depreciação rotineira; e a vida já não é tão valiosa, e o porteiro já não é mais merecedor de sua gentileza, e o mundo já não mais carece de ajuda ou mudança; voltamos à estagnação de vossa normalidade, voltamos às mãos atadas e ao egoísmo costumeiro. 

Cuidado, eu alerto.
Cuidado com choro em demasia
Atenta à falsa comoção, ao coração
Que só se toca com o alarde da televisão
Pessoas morrem todos os dias, milhares, milhões
Tragédias acontecem todos os dias, minuto a minuto
Quem tem compaixão, é compaixão.
Quem tem amor, é amor.
Todos os dias, seja como for

Cala e aprende, o silêncio é o mais respeitador de todos os sons.