terça-feira, 2 de setembro de 2014

Entardecer


A neblina desce sobre as montanhas
Seres vagueiam em meio às multidões
Uma nulidade de corpos oblíquos
Difusos de suas carrancas e medos

O sol esconde-se dissimuladamente
Por entre as coxas estéreis da lua
Adentrando o ventre da noite
Cachorros perdem seus rumos
Os gatos acordam num susto

Suspiros ecoam lajeando o cansaço
Amantes não mais amarão
As horas estagnarão num nó
Despedem-se os colegas do labor
Cinismos dão vazão ao maxilar leve

Não há mais sorrisos vãos ou telefonemas
Os sinos tocam arrependidos do pesar
Pássaros hão de, penosos, voltar
Silenciando o torpor das esquinas
Impregnados do zumbir diário, os sensíveis
Recolherão suas carcaças do flagelo
Preferindo a procrastinação ao descompasso

Cortinas de horas pairam sobre ombros
Indecifráveis obrigatoriedades
Lágrimas se recolhem e nada se pode sentir

Postergarás as horas póstumas, cimentando
O dó da canção do exílio e da dor
Eximindo os vermes de qualquer carniça-fria
Fervendo o sangue e pulando os cordões
Chegando a tempo paras as últimas lotações

Findou-se mais uma tarde e eu, covarde, fugi.

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