terça-feira, 12 de maio de 2015

Fantasmas

Tempos líquidos dizem, e tudo sentimos
a leveza dos laços leva à laço algum e somos sós
os nós se assemelham a forcas e fugimos em desatino
os desatinos são crucificados, é proibido chorar em público
não entristeça, usa de cautela, antes que queiram te curar
não faz, é contra-lei, esses comprimidos hão de te ajudar.

Amor líquido dizem, a marcha dos narcisos
em ode à loucura enaltecem uma insanidade controlada
modere suas palavras como álcool e sua rebeldia enclausure na torre
foco no que deves almejar, trabalhe, queira, faça, compre e deva
ligue, atenda, mande mensagem, diga eu te amo e seja feliz
esconde isso tudo, engole mudo, que ninguém olhando diz.

Modernidade líquida, escorrendo pelos azulejos
sem paradeiro, é feio estares assim sempre todo insatisfeito
mudança arrisca demais, fique bem aí aonde estagnou outrora
assista aos barcos partirem no cais e sinta saudade, mas por pouco tempo
preserve amizades mas sem confiar, as pessoas mentem, não se machuque
não abrace qualquer um, não dance sem música e se a música tocar fique.

Parado.

És líquido que naturalmente escorre, te restringem as ordens
sem fluidez alguma, água parada torna-se berço de parasitas e pragas
água congelada, morta, não criará vida e nunca por nada será habitada
beba até secar tua nascente e veja se anula teus anseios todos logo de uma vez
tenha uma relação estável, uma família admirável, um filho saudável e orgulhe-se
reze toda noite para um deus de misericórdia e ao fim de um dia qualquer mate-se

Morte líquida que há de escorrer pelo chão de mármore
morte infinita, por um ciclo insuprível de mágoas caladas
suicídio abstrato do que nunca pulsou ou sequer vivera
vida com capa dura e letras miúdas nunca escritas
pudesse gritar não haveria voz pra suportar
engula todo choro e logo vá trabalhar...

De luto.

(Alice)

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