terça-feira, 22 de julho de 2014

Temporal


O tempo me disse que um dia era pouco pra quem nada ansiava.
O tempo me disse que uma hora era muito quando esperava a amada.
O tempo me fez crer que o hoje é a dádiva que temos, quando o ontem já foi e o amanhã nem sempre vem.
O tempo me fez perceber o quanto é bom colo de mãe, como é precioso conselho de irmão e como é gostoso comida de vó.
O tempo me ensinou abraçar mais forte, a rir mais alto, a elogiar e valorizar as pessoas que me cercam.
O tempo me disse que a distância dói e a ausência mais ainda... Eu demorei pra perceber.
O tempo sempre regeu meus passos, as horas viraram um espaço e quando veio a maioridade eu confesso quase ter enlouquecido de vez.
Desde então eu choro o tempo...

O tempo que se perde ao trabalhar dia após dia.
O tempo que se despede a cada final de tarde, a cada poente.
O tempo que corre depressa demais nos finais de semana.
O tempo a ceifar vida, mês a mês e a cada aniversário um pouco mais.
Os verões preguiçosos, os invernos dolorosos e então os anos se esvaem.

Sentes a necessidade inútil de correr, correr e correr pra ver se foges do tempo...  Não adianta.
Sentes um nó na garganta e a nostalgia das alegrias que foram e que não voltam mais.
Sentes um saudosismo burro das pessoas as quais te afastaste por razões quaisquer.
Sentes um abismo de medo pelo envelhecer ou pelo não envelhecer, medo de não vencer.
Sentes uma urgência em experimentar, em permitir-se, em errar, em sentir, em tentar... Agora.

O tempo me ensinou que nada disso funciona.
Que o amanhã vem sempre, mesmo que não estejas presente.
E não existe melhor ou pior forma de viver. O tempo é de cada um e cada um sabe do tempo que têm.
A única e inerente verdade é que o tempo pra quem conta o tempo... Acaba.
E por mais cedo que dê a largada nessa corrida acirrada contra as horas...
Mais cedo espero que percebas que o tempo quem conta é o tempo e só, e sempre.
O tempo vive em ti, que um dia há de morrer...  E morre,
Sempre.

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