terça-feira, 12 de agosto de 2014

Fim


Não darei a este mundo breu, filhos meus.
Não ousarei deixar que de mim haja frutos.
Não quero ver ninguém olhar com os mesmos olhos assustados que eu olhei para as coisas e para tudo.
Assim, que ninguém compadeça de tal criatura como eu compadeci de tanta coisa e de tanta gente...

Que não haja de forma alguma cria minha pr'esta vida, e que minhas entranhas se rasguem por antecipação sabendo que a dor que semeariam seria mil vezes maior e mil vezes pior que o parar do meu coração.

Que nunca sofra tal animal com os olhares de decepção, de reprovação, de julgamento, de interrogação pelo bem ou pelo mal que não conheça egoísmo tal. E que, sua percepção sentimental demais não se debruce jamais sobre tudo que os sentidos podem tocar.

Que eu seja  terreno infértil, seco demais das lágrimas que chorei, árido demais pra receber vida qualquer de qualquer forma. Nem bactéria, nem fungo, sequer o húmus da terra haverá de me querer. E que a desgraça carrasca se contenha eternamente em minha carcaça disforme.

Que logo então, sangre minhas feridas, torture minha carne e exponha meus ossos feios e frágeis.
Eu que impotente e sem norte, nessa capa de morte gritarei na cara da sorte com sorriso no rosto: isso tudo é pouco e eu aqui meio morto já nem sinto mais.

Nenhuma parte, nenhuma gente vai ver ou ser descendente meu.
Eu, cria do breu, jamais deixei de fugir do escuro e fiz disso um escudo ao mundo que me pariu.
E ao findar minha linhagem, que estivera aqui só de passagem, bestemarei aos confins do inferno que não viverei mais nenhum inverno e pararei de chorar enfim...


No fim de mim.

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