quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Das Loucuras

Todos querem me curar.

Tonta e desnorteada entro no carro e calo.
Talvez tenha excedido a bebida, perdi a conta dos copos.
O movimento e as luzes me embrulham o estômago.
Tu me olhas com teu comum ar de reprovação,
Desgostosa com minhas ações, julgando meu andar.
Discursa sobre um possível futuro brilhante que eu poderia ter.
Mas que, pelo meu portar, jogava aos ares todo brilho por vir.
Eu ligo a música ainda muda e dou risada por dentro.
Questiona se tomei meus remédios e me aponta que,
De nada adiante se eu jogar uísque em cima.
Olho a carteira de cigarros e, num pigarrear, percebo que estou ficando sem.
De canto de olho, mantendo as mãos no volante, dizes que estou fumando demais.
E logo indagas sobre aquelas meditações que a terapeuta havia receitado,
Inspira contando até cinco, expira contando até sete, inspira, expira... Não.
Com o suco gástrico batendo na garganta eu abro o vidro e respiro engasgando.
Antes que sibile a próxima sentença eu te olho nos olhos e peço que pares o carro.
Começo a discutir contigo, sobre como eu não preciso que cuides de mim.
Que não preciso de cura e que talvez vá morar na rua, dependendo de como a vida correr.
Fecho os punhos e começo a chorar, grito que não preciso me curar, que isso tudo sou eu, que se escolher viver no breu é decisão minha e só.
Mas ao abrir os olhos percebo que todo ódio e todo medo eram meus apenas.
Que em verdade, dirigia pela cidade em silêncio e só...

Sozinha no carro, o tempo todo.

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