sábado, 29 de novembro de 2014

Seres Sociais

Relatos de um morto-vivo:

Vejo essa gente que nada me diz e que sequer me enxerga, enquanto invisível à tão idolatrada sociedade perambulo contando moedas de esquina em esquina.

Vejo essa gente que deseja minha morte, sem perceber que eu sequer existo em seus falhos registros e listas, que sequer nasci para estes olhos que me condenam ignorantes e imperativos.

Escuto seus passos sempre apressados demais e, não deixo de me questionar os porquês desse atônito correrio cadenciado, sequer me dão um trocado ou me olham nos olhos... Não importa.

Respiro a fumaça de seus cigarros e recolho as embalagens de seus ansiolíticos pelas calçadas enquanto assisto brotar em suas faces rugas de preocupações ininteligíveis; sequer comparam a necessidade do torpor da droga que me amansa à deles... Sou o chiclete preso em seus sapatos de carmim.

Sento na calçada e ouço os sussurros e suspiros e medos e conselhos e conversas e receios... Sou um monstro.

Sou bicho de outra espécie, sou pedra, sou mato, sou lixo... Sou um morto vivo.

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