terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Ávido

Eu te quero madrugada a dentro e dia afora
nos meus sonhos mais quentes, nas minhas noites de insônia
pra sorrir comigo entre olhares reféns, pra fossa molhada dos meus abismos de vazio e lágrimas

Eu escrevi teu nome no rodapé da folha de caderno sem querer
juntei um fio de cabelo teu no lençol e quis te materializar a partir daquela sobra, daquele resto de ti
teu cheiro no travesseiro tira meu sossego mas me faz dormir, tua calma na minha alma fez moradia popular
arranha minha garganta a falta da tua saliva milagreira

Eu esqueci um lenço qualquer na tua estante de discos
acabei fazendo daquela tarde casual uma missa de domingo
do teu corpo um tão sagrado santo barroco
da nossa transa tanto um transe quanto uma resa
e o depois uma ilha no Pacífico uma capela gótica na República Tcheca
(ouvia-se os sinos dobrarem)

E é tão lindo esse meu bem, que eu sonhava colocar numa caixinha de música
pra que toda vez que eu abrisse, ele sorrisse e me cobrisse de calor
cuidasse como quisesse e, quem me dera, me fizesse dele num olhar cativo
dispisse das coisas mundanas demais e ficasse mais um pouco, toda vez um pouco mais

Ele que não é meu e que nem sabe que eu já sou tão dele
que me deixa entrar as vezes mas não chama pro sofa da sala
quer meu prato feito assim pelas beiradas e eu cheia de fome feito retirante
aceita os meus convites com vontades receosas ainda recusa aquela xícara de chá dizendo as horas
(se me deixasse eu o engolia com asas e tudo)

Mas que os nos se enlacem com calma como tudo que dura e lapida
feito as pedras do rio escondido eu fiz os meus pedidos todos em silêncio
não me faltam horas pra esperar o teu querer recluso
ainda que confuso, eu sei que mais tardar te roubo
na curva da esquina da tua casa, com os cachorros olhando e não entendendo nada
no meio da madrugada eu te fiz meio meu...

Bastava.

(Joana ou Joaquina) 

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