quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Amor que Vem

Aquela que vai ali, logo atravessando a rua,
de camisa florida, calça jeans e sapatilhas,
aquela ali é Mariana.

Diziam as maldosas línguas, que era doida, 
que era promíscua, que deitava com muitos sem ligar pra gênero
Fazia juras de amor imagino, choviam presentes na portaria do prédio,
todos com destino certo, apartamento sessenta e um, com bilhete.

O porteiro dizia que Mariana andava era com a gira encostada,
levou uma peça usada pra terreira, mas o preto disse que não dava de desmanchar,
"é caso perdido seu João, nem levando pro fundo do mar"

E todo dia era tulipa, rosa portuguesa, chocolate belga e até perfume francês
tinha um que outro cidadão que oferecia "uns qualquer" pro seu João só pra entrar e sentir o cheiro,
pegar uns fios de cabelo, uma calcinha ou mesmo um lenço sem valor... "por favor" diziam.
Mas seu João homem direito mandava todo mundo andar, "é crime isso de invadir lugar, sabia?"

E toda semana era igual, seu João acenava enquanto ela atravessava o sinal,
quando se ia ele já dizia "essa menina, não sei como faz tanto carnaval", 
comentava da pomba gira e balançava negativa a cabeça falando da fé perdida.
Mariana nem ouvia, nem ligava, nem percebia olhar nenhum,
nem mesmo os da vizinha do sessenta e nove que vez em quando espiava as conversas e transas, os cigarros e danças, como boa vizinha de família tradicional e sobrenome.

Aquela que vai ali, entrando na venda comprar cigarros,
de vestido cinza, casaco solto e cabelo bem amarrado,
aquela ali é Mariana.

Certa vez saímos juntos, rimos, dançamos, transamos e dormimos
acordamos ao som do vinil, fumamos café, tomamos cigarro, com a cara amassada e tesão
e eu já querendo abrir meu coração, era tanta proposta que ela até aceitou.

Tolice minha, eu devia saber que Mariana não nascera pra morrer, mas sim pra matar
de amor o mundo todo, eu fui mesmo muito tolo pensando agora aqui comigo

Namoramos eu e ela, mais eu que ela sem dúvida, hoje consigo ver como filme hd,
eu querendo agarra-la em meus braços e ela ali querendo correr de tudo que já era bem blasé.

Tem pavor de clichê, de michê, de limbo qualquer, de morno.. até o café tem que ser bem quente queimando
e eu do lado dela tentando despertar paixão como se possível tirar água de pedra, que idiotice percebe?!

Ela terminou depois de dois meses ou três, e eu chorei feito um cão sem dono
mandei flor, perfume, chocolate, algum adorno pro gato..
e ela já avisava pro seu João na portaria que voltaria bem tarde, isso se voltasse.
Chorava mais um pouco, fumava um maço as vezes dois, pensava nos meus erros e sentia toda culpa do mundo
olhava pros remédios com ânsia de suicida, afinal de que valia a vida sem Mariana?!

Aquela que vai ali, sorrindo abraçada naquele rapaz
de saia longa, regata mostrando a pele mais aquele brilho no olho,
aquela ali é Mariana

Depois de muito rodar, ela que sempre achou que seu mau era paixão demais,
foi logo entrar naquele bar que fica na zona sul,
ali que perdeu-se tudo, o dito retorno de saturno talvez..
não sei, só sei que foi assim.
Que não foi por mim nem por todos aqueles tantos que atucanavam seu João.

Ao perder-se das amigas no salão,
esbarrou com Miguel e fim.
(que pena eu sempre digo, eu que já ganhei aquele sorriso entendo como ficou esse rapaz) 

Acabou-se gira e acabou-se mundo,
tudo de repente no mudo e o coração junto
calaram só pra ver o amor passar.

Aquela que vai ali, cujo sorriso não me pertence
cujo o olhar nunca mais anuviou, 
aquela junto de Miguel...

Aquela é Mariana,

depois do amor.



(Túlio)

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