Eu havia chegado uns minutos mais cedo, mas logo sentei em minha mesa
de vidro, bem acomodada em minha cadeira-com-rodinhas em meio a papeis,
agendas, telefone, calculadora, teclado, mouse.. Liguei o ventilador e
botei uma música qualquer. Faltavam alguns vinte ociosos minutos até
dar, de fato, o horário do meu expediente.
Girando a cadeira percebi algo relativamente grande se movendo em
direção a mesa, passando ao lado da base de apoio do tão querido
ventilador… Era uma barata, do tamanho, senão maior, que meu polegar.
Vinha desengonçada cheia de livre-arbítrio em direção a mim, com todas
aquelas patas, e asas, e antenas que mechem.. Nutro real e profundo
desgosto por baratas.
Entrou a direita logo em frente a minha cadeira, e eu, não mais
rápida que ela, tirei minha sandália com ares de chacina em meus olhos
pronta para um crime premeditado.. Porém, ela entrou por uma fenda ao
lado, entre um móvel e a parede, de uns dois e alguma coisa centímetros…
E eu, fiquei a ver navios com minha sandália em mãos.
Passados cinco minutos não mais que isso, vejo a dona barata do lado
de fora da maldita fenda, estranhamente estática. Aquilo me intrigou, e,
ao olhar melhor, percebo então a figura, a vilã da cena, a
protagonista.. Uma aranha. Não chegava a medir um centímetro com patas e
tudo, era dessas que tem o abdômen pomposo e patas finas.
Dona aranha então tecia sua teia em volta da barata que já estava grudada em tantos outros fios da mesma.
A barata se contorcia e agitava as patas e antenas desesperadamente
enquanto a aranha mais que habilidosa ia até a parede, fixava uma ponta
da teia e voltava a ela, enlaçando, e puxando, e prendendo.. Ignorando
completamente a sua desvantagem em tamanho. Parecia um ritual, e eu como
telespectadora, me senti até meio sádica, lunática… Principalmente por
estar torcendo fervorosamente para a dona aranha.
Pensei comigo: e se eu tivesse matado essa barata? Ou até mesmo a aranha?
A todo o momento nós interferimos direta ou indiretamente no ciclo
natural das coisas.Ignoramos por completo a cadeia alimentar com toda
sua importância e princípios justificados. Somos, ou melhor, achamos que
somos o ápice da evolução, o topo da cadeia.. Os intocáveis donos da
situação. Tenho pena da raça humana. Não passamos de sarnas no mundo. Se
o planeta está doente, nós somos a doença.
A aranha comeu a barata, é uma questão de sobrevivência. Em breve o
mundo nos engolirá, para que possa seguir em frente com sua existência..
Questão de sobrevivência.
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