sexta-feira, 23 de março de 2012

Sobre vivência.

Eu havia chegado uns minutos mais cedo, mas logo sentei em minha mesa de vidro, bem acomodada em minha cadeira-com-rodinhas em meio a papeis, agendas, telefone, calculadora, teclado, mouse.. Liguei o ventilador e botei uma música qualquer. Faltavam alguns vinte ociosos minutos até dar, de fato, o horário do meu expediente.
Girando a cadeira percebi algo relativamente grande se movendo em direção a mesa, passando ao lado da base de apoio do tão querido ventilador… Era uma barata, do tamanho, senão maior, que meu polegar. Vinha desengonçada cheia de livre-arbítrio em direção a mim, com todas aquelas patas, e asas, e antenas que mechem.. Nutro real e profundo desgosto por baratas.
Entrou a direita logo em frente a minha cadeira, e eu, não mais rápida que ela, tirei minha sandália com ares de chacina em meus olhos pronta para um crime premeditado.. Porém, ela entrou por uma fenda ao lado, entre um móvel e a parede, de uns dois e alguma coisa centímetros… E eu, fiquei a ver navios com minha sandália em mãos.
Passados cinco minutos não mais que isso, vejo a dona barata do lado de fora da maldita fenda, estranhamente estática. Aquilo me intrigou, e, ao olhar melhor, percebo então a figura, a vilã da cena, a protagonista.. Uma aranha. Não chegava a medir um centímetro com patas e tudo, era dessas que tem o abdômen pomposo e patas finas.
Dona aranha então tecia sua teia em volta da barata que já estava grudada em tantos outros fios da mesma.
A barata se contorcia e agitava as patas e antenas desesperadamente enquanto a aranha mais que habilidosa ia até a parede, fixava uma ponta da teia e voltava a ela, enlaçando, e puxando, e prendendo.. Ignorando completamente a sua desvantagem em tamanho. Parecia um ritual, e eu como telespectadora, me senti até meio sádica, lunática… Principalmente por estar torcendo fervorosamente para a dona aranha.
Pensei comigo: e se eu tivesse matado essa barata? Ou até mesmo a aranha?
A todo o momento nós interferimos direta ou indiretamente no ciclo natural das coisas.Ignoramos por completo a cadeia alimentar com toda sua importância e princípios justificados. Somos, ou melhor, achamos que somos o ápice da evolução, o topo da cadeia.. Os intocáveis donos da situação. Tenho pena da raça humana. Não passamos de sarnas no mundo. Se o planeta está doente, nós somos a doença.
A aranha comeu a barata, é uma questão de sobrevivência. Em breve o mundo nos engolirá, para que possa seguir em frente com sua existência.. Questão de sobrevivência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário