sexta-feira, 23 de março de 2012

E A Vida Levou

Desemboco em ruas escuras
Sou vento
Sou raio
Sou chuva
Faço a curva onde o olho não alcança
Não chego onde brinca a criança
Brindo a noite, o fel das horas
E quando todos vão embora…
Eu fico.
Sumo das coisas feias
Junto aos buracos do asfalto
Se a solução fosse um salto
Eu pularia.
Vivo no esconderijo
daqueles que há muito fogem
e não sabem...
Porquê. 
Do que.
Não sou ator ou plateia,
sou figurino velho numa coxia suja.
Dos animais sem mãe sou sombra,
O barulho na janela que os sonhos assombra.
O gato preto de olhos amarelos,
por sobre a mureta
por entre os prédios...
Que exalta a lua
Que pertence a rua.
Lençol de motel
Meretriz ao léu
Na roupa, o mau-tom
Na boca, o batom
E a camisola em chiffon
Barata.
Acendeu um cigarro, pigarreou
Aproximou-se do carro e parou
Pobre criança que o vento levou
As esquinas, o ócio, a noite…
Se encarregaram,
Ela esfriou.

Bebeu, 
fez, 
sofreu, 
usaram, 
usou.
A vida complacente,
assistiu a metamorfose
Da criança carente
em mariposa.
Já era tarde...
Ela esfriou.

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