sexta-feira, 23 de março de 2012

Um Sopro de Vida e Só.

E naquele momento, naquele minuto em que o mundo parou e o céu desabou, foi quando ela percebeu algo que sem querer, até então, deixara passar.

Naquele instante, teve noção do quão frágil é a nossa existência.

(Somos como porcelana ou taça de cristal, estrela cadente ou trovão… somos frágeis e breves.)

Lembro claramente de suas pálpebras inchadas, guardando seus olhos cansados de tanto se inundar em prantos chorosos. Era dor demais pra caber naqueles olhos, transbordavam.
Alguns momentos de insanidade a faziam dar trégua ao choro, dando lugar a cenas mais deprimentes que as próprias lágrimas.

Era a coisa mais triste que eu já havia presenciado. As lágrimas que escorriam nela também jaziam em meus olhos, eu era pequena, nova demais pra entender a dimensão daquilo tudo. Mas, meu coração estava tomado por um desespero tremendo, não sei dizer, agarrei minha mãe pela cintura como se nunca mais fosse soltar. Sabe, doía olhar…
Aquela menina.

Lembro como se fosse hoje!

Dentro daquela caixinha branca, tão pequena! Parecia tão confortável, juro, devia ser por causa das margaridas que cobriam seu corpo, tão pequena. Seu rosto inchado, branquíssimo, e os olhos fechados de uma serenidade única. Uma verdadeira blasfêmia aqueles olhos, sempre tão iluminados e sorridentes, estarem assim selados. O cabelo negro, o qual seu pai cuidadosamente acariciava enquanto balbuciava algumas palavras inaudíveis, como numa confissão, sem levantar os olhos.

Não tinha quem não se comovesse. As pessoas não sabem como agir numa situação como essa, e nem devia ser preciso saber.
Um festival de corações tocados e olhos encharcados, era penoso, andavam em círculos como que pensando em uma solução para algo deveras insolúvel. Alguns, cansados, sentavam e fixavam seu olhar em um ponto qualquer no chão, reflexivos.

E eu, assistindo àquilo tudo, só conseguia pensar em como a vida podia ser tão dura, triste, imprevisível, chocante, escabrosa, maldosa, injusta… Vida injusta! (caía uma lágrima)

Coisas desse tipo enchem a gente de sentimentos confusos, dor, pena, ódio… Alguns palavrões.

Mas aquela mãe… É algo que vai ficar para sempre em mim.

-Acho que agora já posso acordar ela não acha? Levar ela pra casa…

Nenhum comentário:

Postar um comentário