sexta-feira, 23 de março de 2012

O Bêbado e a Cidade Cinza.

Trôpego, o bêbado passeia.
Invisível aos olhos dos que sem tempo
Correm contra o vento e morrem a favor
Numa maré de urbanóides ocos
Fundidos pelo piche
Concretados à cidade cinza.
Restam só cinzas
Do verde que antes ali habitava e embelezava
Das flores, das frutas
Mas a velha labuta deu lugar ao crescer,
Que deu lugar ao morrer e abrigou a fábrica,
O prédio comercial, a vida em algo banal.
Correrio de esquina-em-esquina
Uma moeda pra menina e pro menino não.
O velho estende a mão no sinal fechado.

Quem nunca foi amado,
            não sabe o que é amor.
Quem nunca foi roubado,
            não sabe do horror.
Quem nunca velou alguém,
            não entende muito de dor.

Das esquinas brota a sina
Da mulher da vida pela própria
                                             Vida.
Uma briga por dia.
Um leão por noite.
Não fosse pouco o açoite
De uma sociedade brega
Que não faz o que prega.
Maldiz o rapaz, alienado
                                    Alien nato.
Juventude alheia,
Um banquete pronto
As oito-e-meia em ponto.

Não há fronteiras na cidade cinza
Não há limites pra quem se aproxima
Cada alma pode ser a próxima.
Cada criança pode ser a nossa.

E assim segue o baile
Dos que só entendem braile
Cegos de visão perfeita
Olhando de cima dos muros
Surdos-mudos.
O dito trio dos macacos:
Que não opinam, mandados
E os que criticam, coitados
E os que se opõem:
                     mal-falados
                             mal-vistos
                                     mal-quistos.

Mas na cidade cinza
O luxo vem do lixo,
E o lixo vem do luxo.

Da cinza-cidade,
           só nos restam
                   cinzas-maldade.

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