Calor infernal, mosquitos por toda parte, suor de molhar os cabelos presos, copo d’água já morna ao lado da cabeceira, pesadelos e dores nas costas, o sol entrando pela janela semi-aberta...
Acordei.
A ressaca já dura dois dias e não dá sinais de despedida. As palavras todas soam como murmúrios ecoados de uma selva cinza e completamente fora de foco, a minha cede parece nunca ter fim e eu lembro do uísque que ainda me arranha por dentro. Lembro do cachorro-quente morte-lenta que comi em uma das noites anteriores e é inevitável a ânsia ao vômito; lembro também de ter xingado o vocalista da banda por tocar algo como “lua de cristal” -você não pode tocar isso!-
Parece que os banhos frios não têm adiantado, que toda água do mundo não é suficiente e que o universo em desfoque torna-se progressivamente agradável, confortável, íntimo; menos dolorido talvez, mais surreal com certeza.
Uma narrativa ecoou em meus ouvidos assim que abri os olhos:
(Para ler ouvindo Pixies “Where is my mind”)
Existe,
subentendido em todas as situações, a vida inteira, um botão verde contendo a
inscrição “foda-se”. Você tem infinitas respostas pras infinitas
perguntas que as vivências implicam; são inúmeros botões e por vezes há mais de
um pelo qual optarás... Um deles é esse verde, o “foda-se”.
O botão verde serve pras críticas de mau
gosto, e pras proveitosas também; serve pros pré-julgamentos e pros
pré-conceitos todos; serve para os momentos de sobrecarga e estresse; serve pra
pressão psicológica e padrões estúpidos que a sociedade em toda sua imensa
hipocrisia impõe... Serve pra tudo que te prende, te censura que te impede de
ir além ou de realizar um desejo qualquer.
Alguns o temem se perdem em seus pensamentos
e neuras, em “comos” e “porquês”; esquecendo-se de que nem tudo é sobre certo
ou errado, nem tudo é justificável ou sequer precisa de uma razão... As coisas
acontecem independentes da gente, elas simplesmente são e nós simplesmente
acontecemos; e por vezes o botão verde é isso: o deixar fluir.
Alguns o excedem e se tornam alienados e por
vezes relapsos; perdem amigos, esquecem família, não dão valor, valorizam em
excesso a “zona de conforto” que lhes é proporcionada; cultuam a
irresponsabilidade como habilidade inata; simplesmente deixam que tudo aconteça
com o contento de ser, da cena, telespectador... Pelo simples exaltar do “botão
verde”.
Como tudo na vida, você espera que eu diga que
“há de haver um equilíbrio”, mas eu odeio esse clichê. A verdade é que a única “solução” para o uso
do botão verde, é uma questão de tato. Ninguém vai te ensinar a usá-lo, como
ninguém vai te ensinar a crescer, como ninguém te ensinou a falar, como ninguém
te ensinou a beber... Entendes aonde quero chegar?
Meu caro, só vivendo.
O
importante nisso tudo é que tu te dês conta da preciosidade da existência
abstrata do botão verde. Da capacidade humana que possuis quanto à absorção de ideias
e do quanto isso pode influenciar na pessoa que somos/na pessoa que queremos
ser. O mundo está em tuas mãos, ali, acontecendo, ele não vai parar pra
te assistir; então, porque parar pra assistir o mundo?!
Nós podemos
tudo. "Foda-se" os que pensam o contrário.
Olhei pra mim, senti minha cabeça pesar mais que o resto do corpo todo; tudo estava no lugar afinal, tudo estava ridiculamente no lugar e isso me fez odiar cada partícula da minha existência vil e rasa.
Levantei com todas as forças que me restavam e fui até o banheiro; joguei alguns litros de água no rosto como se aquilo fosse me acordar de uma realidade eminente; olhei no espelho e senti vergonha daquela cara, das olheiras, do sono, da ressaca... Logo passou.
Esses momentos reflexivos nos botam num astral ridiculamente baixo, são momentos baixos, e o peso das ideias nos doe feito diabo... Logo passa.
"This is your life and it's ending one minute at a time." Tyler Durden
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