quarta-feira, 6 de maio de 2015

A Corda

Tinha um punhado de dúvidas
Tinha uma bagagem cheia de saudades
Já não sabia como era doar-se
Perdeu-se talvez em meio às confusões

Os espelhos refletiam interrogações e só
A busca incessante do saber-se já intangível
E as vozes em sua cabeça não sabem descansar

A noite era dia e o dia todo ardia feito ferida aberta
Portas abriam e fechavam sem atrair atenção alguma
Sem sibilar palavra qualquer, sentia tudo sem entender
No desejo de nada confortava-se no ócio inútil

Ócio, esse sofa mais café preto e cigarros
Ócio, essa fuga das possíveis respostas trabalhosas demais
Ócio, aquele caixão contendo os vermes que hão de comer a carne já fria

Essa quietude que amansa mas arranha é pior que o mais fervilhante caos
O marasmo mata, mas quem disse que queriamos viver?
Somos ou devemos ser...
Vivemos ou devemos viver...
Uma ordem, uma lei ou várias...
Negarás?
Negas.

Sentia a carne esfriar e o conforto do inverno era mais familiar que devia
Sentia as entranhas dilatarem e a respiração já ofegante falhar, pedia calma

Que fazer quando o que se quer é horas que arrastam correntes de duras penas?
Que fazer quando o desejo maior é apenas nada desejar e deixar tudo ser?
Que fazer quando o nada e apenas o imenso e oco nada basta?

És todo vazio
Já não sabes amar
E nada esperas do universo
Além do duro vazio de ser
Desencanto acordado
Vivendo à sorte
Sem ser velado
A cor do
Sonho?

Ocre.

2 comentários:

  1. O desejo de nada somado ao ócio inútil findaram nestes belos versos? Talvez eles tenham seu lugar no sentir das palavras. Nem tão obscuro, o fundo do blog ganhava tons alaranjados e rosados enquanto eu lia.

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  2. Obrigada por ler. O sentir sempre tem seu lugar em tudo, nas coisas feias e aparentemente sem cor, nas coisas bonitas mas sem sabor, nas utopias ou nos ódios...

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